Ana Pompeu

Em uma conversa para ampliar os pedidos de informações à Suíça, procuradores da Lava Jato fazem piada sobre encontrar, nos resultados das buscas, dados sobre o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (<a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/stf" target="_blank" rel="noopener noreferrer">STF</a>). As mensagens atribuídas aos membros do Ministério Público Federal (MPF) seriam de fevereiro de 2019 e constam nos autos da ação que tramita no STF para que a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha acesso e possa usar as informações da delação da Odebrecht e, mais recentemente, da operação Spoofing.
Na tarde da próxima terça-feira (9/2), a 2ª Turma do STF julga dois recursos da Procuradoria-Geral da República (PGR) que questionam decisão do ministro Lewandowski de conceder ao ex-presidente Lula acesso às mensagens hackeadas de membros da Lava Jato e do ex-juiz Sergio Moro. Gilmar é o presidente da Turma e tem manifestado posições críticas à operação e forma de atuação de seus integrantes. 
<a href="https://conteudo.jota.info/poder-contato"><img class="size-medium wp-image-292717 aligncenter" src="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2021/01/jota-pro-poder.jpg" alt="" width="688" height="688" /></a> 
Em dezembro, Lewandowski atendeu a pedido da defesa de Lula e determinou que ele tivesse acesso às mensagens apreendidas no âmbito da Operação Spoofing. Na última semana, o processo foi tornado público, e a defesa do petista tem juntado perícias de trechos que considera relevantes para corroborar a tese de parcialidade de Moro. O pedido de suspeição também será julgado pela 2ª Turma, da qual também fazem parte o relator da operação no STF, ministro Luiz Edson Fachin, além de Cármen Lúcia e Nunes Marques.
Nesta conversa, especificamente, falam o ex-coordenador da força-tarefa em Curitiba Deltan Dallagnol, Roberson Pozzobon e Athayde Ribeiro da Costa. Deltan pergunta a Roberson sobre o pedido de cooperação, que responde ironicamente sobre a possibilidade de encontrarem dados sobre o ministro do STF. Athayde entra na conversa dizendo que eles não têm autorização para investigar ministro e acrescenta risos.
"Robito, fizemos um pedido de cooperação específico pra obter os docs do cartão de crédito? Se não, vale a pena. O fato de não estarem com a conta não significa necessariamente que não existam. Acho que vale tentar. Vale tb pedir prioridade pra PF analisar esse malote né", diz Deltan.
Roberson Pozzobon responde: "Tem um pedido nosso a SW de complementação do envio das transações das contas de PP lá. Os bancos pediram duas semanas adicionais aos colegas lá. Mas foi dada uma semana só. Vamos ver se já não vem nesse pedido, Delta. Qq coisa o Julio que tá em contato direto com o Fabrice, pode pedir o complemento. Não só desse cartão. Mas de todos. Vai que tem um para o Gilmar... hehehe", brinca o procurador.
Nesse momento, Athayde diz: "aí vc estara investigando ministro do supremo, robinho.. nao pode. rs" E Pozzobon rebate: "Hahaha. Não que estejamos procurando. Mas vaaaai que". Deltan volta à conversa, sem mencionar o ministro: "hummm acho que vale falar com suíços sobre estratégia e eventualmente aditar pra pedir esse cartão em específico e outros vinculados à mesma conta. Talvez vejam lá como algo separado da conta e por isso não veio, afinal diz respeito a OUTRA pessoa. Podemos marcar uma call." 
E, depois, diz: "o cartão pode ter valido até bem mais recentemente… imaginou? Hehehe..." Estas mensagens integram o quarto relatório preliminar do perito que trabalha no caso. O material tem elementos sobre a cooperação da Lava Jato com agências estrangeiras, como as americanas FBI, DOJ, Embaixada e outras, inclusive no acordo de leniência da Odebrecht.
Os advogados de Lula classificam a postura da Lava Jato como "pesque e pague", para se referir à intenção de ampliar o escopo de buscas a fim de encontrar material que não estava no horizonte. "Arquivos, ademais, que revelam investigações descabidas, inclusive de autoridades com prerrogativa de foro por função, baseadas em falsos rumores. Atuação 'pesque e pague' de membros da Receita Federal a pedido da Lava Jato – mediante consulta informal de informações sigilosas a pedido dos procuradores para somente tornar oficial o pedido na hipótese de obtenção de resultados favoráveis à acusação."
O advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, também afirma que "diversos documentos foram encaminhados pela Procuradoria da Suíça aos procuradores da “Lava Jato” por meio do aplicativo Telegram. Ou seja, o encaminhamento do material ocorreu de forma clandestina e absolutamente incompatível com o que prevê o Acordo firmado entre Brasil e a Suíça para fins de cooperação em matéria penal".
O defesa do ex-presidente e a Lava Jato de Curitiba estão em disputa por meio da Reclamação 43.007, sob relatoria do ministro Ricardo Lewandowski, pela disponibilização, sigilo e uso dos materiais apreendido na Operação Spoofing. Os diálogos em tom de piada sobre informações de Mendes estão em uma petição dos advogados de Lula enviadas a Lewandowski.
Na semana passada, o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Humberto Martins, encaminhou ofício ao procurador-geral Augusto Aras para pedir a apuração, pela PGR e pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) de notícia de que um <a href="https://www.jota.info/justica/humberto-martins-pede-apuracao-por-lava-jato-querer-investigar-ministros-do-stj-05022021" target="_blank" rel="noopener noreferrer">grupo de procuradores da Lava Jato teria a intenção de investigar, ilegalmente, a movimentação patrimonial de ministros</a> do tribunal.
Procuradores como o ex-coordenador da força-tarefa e Diogo Castor de Mattos teriam, também em trocas de mensagens apreendidas na Spoofing, sugerido pedir à Receita Federal uma análise patrimonial dos ministros que integram as turmas criminais do STJ, sem que houvesse, para tanto, autorização do Supremo.
A defesa de Lula tem ido diariamente à sede do Instituto Nacional de Criminalística (INC), em Brasília, para acessar o material remanescente apreendido. No total, Cristiano Zanin e equipe tiveram acesso a 740 Gb em arquivos, por meio da decisão de Lewandowski de 28 de dezembro. 
Há mensagens dos membros do MPF do Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, e do ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro, também chamado de Russo ou Putin. Em alguns chats também há a participação de integrantes de órgãos de correição. 
Em uma das mensagens em que tratavam de um pedido de Moro para que os procuradores entrassem com um pedido no mesmo dia em um processo contra Lula, já que o juiz iria viajar e tinha aberto prazo para a defesa, eles ironizam: “no cpp russo, tudo pode”.
<h3>Dentro da lei</h3>
Também nesta segunda, o grupo de ex-integrantes da operação enviou ofícios a Aras, ao STJ e ao CNMP como resposta à informação divulgada na sexta de que teria conversado sobre investigar ministros do STJ. "Afirmamos que a notícia está absolutamente equivocada e reiteramos que os procedimentos da equipe sempre se pautaram estritamente pelo cumprimento da lei."
De acordo com eles, em todos os casos em que foram identificados elementos concretos relacionados a autoridades com prerrogativa de foro foram feitas as devidas comunicações às autoridades competentes – sem exceção.
"Primeiro, o material em que se baseia a notícia tem origem criminosa, sendo fruto da atuação de hackers que invadiram contas pessoais mantidas no aplicativo Telegram por diversas autoridades. Trata-se de material ilícito", diz o ofício. Eles dizem, ainda, que a integridade ou autenticidade do material jamais foi atestada por perícia, "embora haja quem divulgue que teria sido 'periciado' na intenção de induzir a opinião pública a uma falsa compreensão da realidade".

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JOTA

'Não que estejamos procurando... hehehe', disse procurador da República. 'Mas vaaaai que', complementou

Entre risos, procuradores da Lava Jato falam sobre dados de cartão de Gilmar Mendes

'Não que estejamos procurando... hehehe', disse procurador da República. 'Mas vaaaai que', complementou