Bruno Perman

<p>Fazendo uma breve retrospectiva dos últimos anos, nota-se que foi em 2013 que a atividade de Relações Governamentais passou por um verdadeiro divisor de águas representado pelo advento da Lei Anticorrupção nº 12.846/2013. A nova legislação proporcionou a operação Lava Jato e a consequente mudança na forma de interação entre os setores público e privado.</p>
<p>A partir desse importante marco, regras rígidas de transparência, <em>compliance</em> e <em>accountability </em>passaram a ser mais exigidas. Com isso, o mercado se abriu às relações governamentais. Não só as multinacionais passaram a enxergar a atividade como essencial e estratégica, mas também empresas médias e grandes, o terceiro setor e as associações de classe.</p>
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<p>Além do ponto de vista estratégico, as variadas crises políticas colocaram fermento nesse mercado. Vivenciamos um impeachment presidencial em 2016, seguido por uma eleição marcada pela influência das redes sociais em 2018 e, em 2020, a pandemia da Covid-19 inflou, ainda mais, a instabilidade e transformação no ambiente político.</p>
<p>Desde início da pandemia da Covid-19, podemos observar grandes mudanças em todos os setores da economia nacional e mundial. Algumas atividades foram turbinadas pelo aumento da demanda, enquanto outras definitivamente desapareceram. Alguns pensadores afirmam que a pandemia acelerou mudanças que já estavam por vir, outros dizem que houve uma pressão para a criação de coisas novas e que os impactos dessas novidades perdurarão por décadas.</p>
<h3>Relações governamentais</h3>
<p>O fato é que a atividade de Relações Governamentais enfrentou grandes mudanças desde os primeiros dias de lockdown, ainda em março de 2020. Passamos por momentos difíceis, em que eram publicados mais de uma dezena de Medidas Provisórias e centenas de Decretos Estaduais e Municipais num só dia. Tudo isso girava numa velocidade frenética e demandava um trabalho exaustivo e de quase super-humanos para acompanhar o que estava acontecendo pelo Brasil afora.</p>
<p>Naquele momento, todos precisaram se adaptar, o que exigiu grande esforço dos os profissionais de Relações Governamentais, que -- ao invés de uma agenda lotada de encontros, reuniões, visitas ao Congresso Nacional e Executivo Federal, gastando o que chamamos os 3 “S”, sola de sapato, saliva e suor - passaram a ter uma rotina diária de videochamadas, ligações, mensagens de WhatsApp e e-mails.</p>
<h3>Congresso</h3>
<p>Logo o Senado e a Câmara implementaram o formato de deliberação remota, com muitas mudanças e adaptações nos regimentos internos a fim de permitir a continuidade dos trabalhos Legislativos, quando o país tanto precisava. As mudanças atingiram a tramitação das matérias legislativas, houve a paralização das comissões e só se analisavam propostas que possuíam relação com a pandemia.</p>
<p>Agora, vivenciando a pandemia há 15 meses, a nova realidade trouxe aspectos que eram inimagináveis de se prever.</p>
<p>Lembro que, antes da pandemia, uma das demandas frequentes do setor era autorização de acesso dos profissionais de Relações Governamentais às instalações do Congresso Nacional, pois importantíssima a entrada facilitada a fim de cumprir as demandas inerentes à atividade e poder circular no centro do poder decisório. O contato pessoal era a forma mais eficiente de desempenhar a atividade.</p>
<p>Na nova realidade, podemos observar algumas mudanças. O acesso aos parlamentares e assessores dos gabinetes pode ser feito via WhatsApp, as reuniões via vídeo chamada e todas as informações são trocadas por meios digitais. A velocidade na apreciação e na votação das proposições Legislativas também teve mudança perceptível, pois muito ágil, de forma que o profissional de Relações Governamentais tem que estar ainda mais antenado, exigindo mais atenção, celeridade e dedicação.</p>
<h3>Regulamentação do Lobby</h3>
<p>Levando em conta a nova realidade, é fácil concluir que as Propostas de Lei em tramitação no Congresso Nacional, que pretendem regulamentar a atividade de Relações Governamentais, estão antiquadas. Praticamente nada do que está escrito, há mais de 30 anos, serve para esse novo momento.</p>
<p>Vivemos outra realidade, a transparência que as videochamadas pode oferecer é completamente diferente das reuniões presenciais, quando necessário assinatura de todos os presentes em ficha de presença. O novo normal pode ser mais transparente e a<em>ccountable</em> em alguns aspectos e mais difícil de rastrear em outros.</p>
<p>Repensar o formato de regulamentação da atividade é um desafio dos parlamentares e das entidades de classe que defendem os interesses dos RIGs (Relações Governamentais e Institucionais).</p>
<p>A realidade do desenho animado <em>jetsons </em>está aí e não podemos defender uma posição de década de 80.</p>
<p>Apesar de a pandemia estar terminando e da pressão de alguns grupos de parlamentares pela volta das atividades presenciais, creio que várias atividades permaneceram no formato remoto ou híbrido. Uma coisa é certa, nada será exatamente da forma que já foi um dia.</p>
<p>O futuro já chegou, precisamos nos adaptar e seguir em frente.</p>
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Lobby

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