Márcio Falcão

Ex-sócio do doleiro Alberto Youssef, Leonardo Meirelles afirmou em seu acordo de delação premiada que um assessor do ex-governador Eduardo Campos (PSB), morto em um acidente aéreo em 2014, recebeu R$2,3 milhões em propina, em um hotel de luxo em São Paulo, em 2012.
Ele também afirmou aos investigadores que  foi informado de cobrança de propina nas obras do Rio São Francisco, além de confirmar as implicações feitas por Youssef em sua delação a políticos e empresários.
Meirelles ainda revelou dificuldades financeiras enfrentadas pelo ex-sócio, que é apontado como grande operador da Lava Jato, e disse ter movimentado cerca de R$ 500 milhões para o doleiro.
O JOTA teve acesso a trechos da colaboração premiada de Meirelles, que deixaram de tramitar de forma oculta no STF (Supremo Tribunal Federal).
Eduardo Campos
Meirelles afirmou que em março de 2012 recebeu R$ 2,3 milhões no Banco Stantard Chartered em Hong Kong de empresas relacionadas a Alberto Youssef.
O doleiro disse que a propina está relacionada a um esquema de ICMS do Estado de Pernambuco. Ele explicou que o dinheiro seria pago por uma empresa beneficiada por uma diferença de débito de ICMS.
Ele também afirmou que encarregou um funcionário de entregar os valores, que foram repassados em um hotel de luxo, na capital paulista.
“Que o assessor de Eduardo Campos estava hospedado no Hotel Emiliano, na região dos Jardins, em São Paulo; Que a entrega foi fracionada em três dias”, disse.
Segundo o doleiro, “na última entrega o funcionário do declarante notou que todos os valores em reais foram acondicionados em uma única mala do assessor de Eduardo Campos”.
Meirelles disse que não se lembra do nome do assessor do ex-governador que recebeu os repasses.
Rio São Francisco
Meirelles contou aos investigadores que Youssef intermediou propina nas obras do Rio São Francisco. Ele afirmou que, em 2011, ouviu Youssef afirmar que parte do dinheiro desviado iria para o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), que é investigado na Lava Jato e foi ministro da Integração Nacional entre 2011 e 2013.
“Que o  declarante [Meirelles]  não sabe exatamente como Youssef operacionalizou o repasse desses valores a título de propina, sendo possível que os recursos tenham passado pelas empresas do declarante ”.
Meirelles disse que uma de suas empresas, a KFC Hidrossemeadura, prestou serviços a empreiteiras da obra de transposição do Rio São Francisco, mas que ela foi comprada em 2012 e “não tem certeza que foi utilizada para repasse de valores destinados a pagamentos de propina no caso”.
A revitalização do rio foi anunciada pelo governo do ex-presidente Lula com a obra dos canais da transposição, como forma de reduzir a resistência dos opositores ao desvio das águas.
Após quase 10 anos, o governo já gastou R$ 10 bilhões na obra dos canais e R$ 2,2 bilhões na revitalização, e nenhuma obra foi concluída, sendo que há suspeitas  corrupção e ineficiência.
Bezerra nega envolvimento com esquema da Lava Jato.
Dificuldades financeiras
Em sua delação, Meirelles disse que acredita ter movimentado cerca de R$ 500 milhões para Youssef.
O doleiro confirmou que seu ex-sócio mantinha “contas-correntes” com  políticos e empreiteiras e que, a partir de 2012, ele passou a ter problemas financeiros.
“Que, a partir de 2012, Alberto Youssef  passou a falar para o declarante que não estava conseguindo honrar os compromissos assumidos com seus "correntistas"; Que Alberto Youssef, tal como um banco, misturava os valores recebidos por diversos de seus correntistas e aplicava inclusive em investimentos pessoais dele”.
Para Meirelles, os problemas eram motivados pela ausência de maior organização e planejamento. “ Que essa situação perdurou até a prisão de Youssef  na Operação Lava Jato, em
março de 2014; Que o declarante acredita que Youssef quando foi preso, tinha mais débitos do que créditos perante seus "correntistas".
Edison Lobão
Meirelles afirmou aos investigadores ainda que ouviu de  Youssef pagamentos de propina ao ex-ministro de Minas e Energia e senador Edison Lobão (PMDB-MA) e ao ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) em um negócio envolvendo  repasse e transferência de créditos futuros de ICMS de Pequenas, Centrais  Hidrelétricas (PCHs) em Mato Grosso. A comissão teria sido de 3%.
Segundo Meirelles, entre dezembro de 2012 a abril de 2013, ele  recebeu nas contas de suas empresas valores referentes a contrato fictício de transferência de créditos futuros de ICMS de PCHs, no estado de Mato Grosso, que transferiram esses créditos para a DUNAX, empresa de lubrificantes.
O delator afirmou que o contrato era no valor de R$ 72 milhões, sendo que a DUNAX efetuou depósitos de dois cheques em contas de suas empresas, um no valor de R$5,9 milhões e outro de R$2,9 milhões.
Ele afirmou que chegou a ser chamado pelo banco para explicar o volume de recursos movimentado na conta da empresa, sendo que ficou acertado a confecção de um contrato de fachada para ser entregue à instituição financeira.
“Que, de acordo com Alberto Yousseff, para que a operação acontecesse, teria havido influência de Edson Lobão, na época ministro de Minas e Energia, e Delcídio do Amaral, em troca do repasse de 3% (três por cento) de comissão (propina)”.
Nos trechos dos depoimentos que ficaram disponíveis, Meirelles confirma repasses para o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e para o senador Fernando Collor de Mello (PTC-AL), além de fazer citações a deputados do PP, e o ex-deputado André Vargas.
A defesa do senador Edison Lobão disse que nunca sequer ouviu falar de Leonardo Meirelles. E que desconhece o assunto relacionado a PCHs. Por fim, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro afirmou que seu cliente nega "peremptoriamente" a acusação feita na delação.
<a href="/wp-content/uploads/2016/08/Pet-5970-4-VOL-08082016.pdf">Leia a íntegra</a>.

Eduardo_Campos_in_Brasilia_in_2010

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JOTA

Meirelles disse acreditar que movimentou R$ 500 milhões para o principal operador da Lava Jato

Ex-sócio de Youssef: Assessor de Eduardo Campos recebeu R$2,3 mi em propina

Meirelles disse acreditar que movimentou R$ 500 milhões para o principal operador da Lava Jato