Luiz Orlando Carneiro

Em março de 2016, esta coluna foi dedicada ao lendário pianista-compositor Randy Weston, jazz master assim reconhecido pela National Endowment for the Arts (NEA), que celebrava então 90 anos de vida, em plena forma, no palco do Zankel Hall, a principal sala de recitais do Carnegie Hall de Nova York. Ele estava firme no comando do seu quinteto African Rhythms, integrado por Cecil Bridgewater (trompete), TK Blue (sax alto, flauta), Alex Blake (baixo) e Neil Clarke (percussão africana). O anúncio formal do concerto festivo publicado pelo Carnegie Hall destacava que o homenageado sempre combinou “a rica música da África com a tradição afro-americana do jazz, misturando ritmos e melodias numa música híbrida que tem sido a marca registrada de sua carreira”.
Sábado passado (1º/9), Randolph Edward Weston morreu em casa, no Brooklyn, Nova York, onde nasceu, cresceu, estudou música e começou a cultuar os seus herois Duke Ellington, Nat “King” Cole, Art Tatum e – sobretudo – Thelonious Monk. Virou cidadão do mundo, mas sempre cultivou, acima de tudo, a ancestralidade africana do jazz. Entre 1967 e 1972morou no Marrocos, convivendo com as comunidades Gnawa do Magreb. Em 2016, lançou o seu 50º álbum como líder, o duplo African Nubian Suite (African Rhythms Records). O seu último concerto foi em julho último, no Festival de Jazz de Nice, França, com o seu quinteto (TK Blue, sax alto; Billy Harper, sax tenor; Alex Blake, baixo; Neil Clarke, percussão).
O poeta Langston Hughes (1902-1967), expoente da vertente americana danégritude, assim sintetizou a arte de Randy Weston: "Quando ele toca, uma combinação de força e gentileza, virilidade e veludo, emerge das teclas, num fluxo-refluxo sonoro tão natural como as ondas do mar".
Hughes foi estreito colaborador do pianista-compositor na concepção e na gravação da celebrada suíte Uhuru Afrika/Freedon Africa! (Roulette/Capitol, 1960), com arranjos de Melba Liston para uma big band de 24 membros. Essa obra permanece como um marco da redescoberta e transfiguração das raízes mais africanas do jazz - num momento crucial em que o negro americano lutava pela conquista da plenitude dos seus direitos - assim como Africa Brass(Impulse, 1961), de John Coltrane; We Insist! Freedom Now Suite (Candid, 1960), de Max Roach; e Art Blakey and the African Drum Ensemble (Blue Note, 1962).
Da discografia mais recente do jazz master, o CD mais relevante é The storyteller (Motema), gravado ao vivo, em dezembro de 2009, no Dizzy’s Club, Nova York, na companhia dos fieis TK Blue, Blake e Clarke, mais Benny Powell (trombone) e Lewis Nash (bateria). O sexteto interpreta The African Cookbook Suite, de cerca de 20 minutos, divididos em três partes, além de versões de Hi-fly, African sunrise e The shrine.
Em 2010, a Duke University Press publicou African Rhythms, autobiografia de mais de 350 páginas de Randy Weston, produto de várias entrevistas por ele concedidas ao jornalista especializado Willard Jenkins, de quem se tornou amigo íntimo.
E aí vão, à guisa de coda, duas observações penetrantes do grande (em todos os sentidos) Randy Weston sobre a africanidade/negritude do jazz:
“Fico pensando como foi possível que tenhamos chegado à América, acorrentados em navios, como sardinhas em latas (nossos antepassados não falavam inglês nem francês) e como conseguimos pegar instrumentos europeus e fazer algo que nunca ocorrera antes. Como é que isso foi possível? Até hoje não entendo. Mas quando ouço música tradicional africana eu entendo a mensagem".
“Dentro do piano há uma harpa. E a harpa é um dos mais antigos instrumentos africanos. Assim, quando eu toco um piano ele vira um instrumento africano. Não é mais um instrumento europeu. E digo isso de um modo positivo, não de um modo negativo”.
(Vídeo de apenas 59 segundos do último concerto do quinteto de Weston no Festival de Nice deste ano:<a href="http://www.youtube.com/watch?v=kFEfJG0GdMg" target="_blank" rel="noopener" data-saferedirecturl="https://www.google.com/url?q=http://www.youtube.com/watch?v%3DkFEfJG0GdMg&amp;source=gmail&amp;ust=1536441042469000&amp;usg=AFQjCNH5O-W6R6MiYpMlDVhugD2frbqCKg">www.youtube.com/watch?v=kFEfJG0GdMg</a>)
(Vídeo da African Rhythm Orchestra, de 10m30, no Festival de Montreux, Suiça, em 1985, tocando Hy-fly:<a href="http://www.youtube.com/watch?v=FRvZ6Tur9dk" target="_blank" rel="noopener" data-saferedirecturl="https://www.google.com/url?q=http://www.youtube.com/watch?v%3DFRvZ6Tur9dk&amp;source=gmail&amp;ust=1536441042469000&amp;usg=AFQjCNEc6S0IJmk97CGJryX7sEJkyTQiag">www.youtube.com/watch?v=FRvZ6Tur9dk</a>)

coluna1

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JOTA

Pianista-compositor deu nova dimensão às raízes africanas do jazz 

Randy Weston (1926-2018)

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