Isabella Macedo

Em depoimento tenso durante esta quarta-feira (12/5), a CPI da Pandemia enfrentou o primeiro impasse político. O ex-secretário de Comunicação Social do governo federal Fabio Wajngarten depôs por mais de oito horas, mentiu aos senadores, e só escapou da prisão - pedida pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL) e pelos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Fabiano Contarato (REDE-ES) - porque o presidente Omar Aziz (PSD-AM) decidiu que não atuaria como carcereiro do ex-funcionário do Planalto.
A possibilidade de prisão do ex-secom foi discutida nos bastidores e Omar avisou que não atenderia a pedidos de prisão. A negativa gerou mal-estar no grupo político que apoiou a eleição de Aziz para o comando da comissão. Para acalmar os ânimos, o parlamentar encaminhou, a pedido da oposição, o depoimento de Wajngarten para investigação do Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT).
<a href="https://www.jota.info/produtos/poder?utm_source=Banner%20site&amp;utm_medium=Artigos&amp;utm_campaign=CTA_Poder_materias"><img class="size-medium wp-image-292717 aligncenter" src="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2021/05/jota-pro-poder8.png" sizes="(max-width: 688px) 100vw, 688px" srcset="" alt="" width="688" height="688" /></a>Além de mandar a investigação sobre o falso testemunho ao MP, Aziz avisou que a conduta desta quarta-feira foi um ato isolado, não um padrão. “Não se iludam, porque eu não vou ter essa parcimônia em relação aos outros depoimentos que tiverem aqui. Tenham certeza disso, se alguém achar que vai brincar com essa CPI,que vai intimidar a CPI, está muito enganado comigo”, declarou o amazonense.
Os senadores que pediram a prisão do ex-secretário argumentaram que Wajngarten mentiu em pelo menos dois pontos centrais. O primeiro foi em relação às críticas ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que, em entrevista à revista Veja, classificou a atuação da pasta na corrida pelas vacinas como incompetente. A CPI requereu à Veja a íntegra da entrevista dada por Wajngarten após o ex-secretário negar que sabia sobre os cinco escritórios de advocacia que estavam auxiliando a Pfizer a avançar na negociação de lotes de vacina da farmacêutica.
À comissão, o ex-secretário se contradisse. Ao ser questionado, Wajngarten afirmou que não sabia dos escritórios, nem tampouco se eles representavam formalmente a farmacêutica. Ele também afirmou não ter “adjetivado, rotulado ou emitido opinião” sobre incompetência de Pazuello na aquisição de imunizantes. Contudo, ele não se manifestou sobre o ministério de maneira geral.
O áudio de 26 segundos liberado publicamente pela revista e reproduzido na comissão pela senadora Leila Barros revelou que o ex-secretário foi questionado sobre a negligência ou incompetência na negociação dos imunizantes. Wajngarten responde que houve incompetência. “Quando você tem um laboratório americano com 5 escritórios de advocacia apoiando na negociação e você tem do outro lado um time pequeno, tímido, sem experiência, é 7 a 1”, diz o ex-secretário, também revelando conhecimento sobre os escritórios auxiliando a farmacêutica.
A segunda mentira apontada pelos senadores foi referente à campanha veiculada nas redes sociais da Secom em março de 2020, sob o título “O Brasil não pode parar”. As versões apresentadas pelo ex-secretário foram contraditadas por áudio da revista Veja e por vídeo recuperado de live nas redes sociais com o deputado federal e filho do presidente da República, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Inicialmente, o ex-secretário disse que não tinha conhecimento da campanha e que não havia aprovado sua divulgação.
Após a reprodução do vídeo, disse lembrar da peça publicitária. Segundo Wajngarten, a campanha ainda estava em fase de testes, mas seu superior à época, o então ministro da Casa Civil Luiz Eduardo Ramos, deu andamento à peça publicitária sem autorização. “Em nenhum momento essa campanha teve autorização de veiculação”, alegou.
“O espetáculo de mentira que nós vimos hoje aqui é algo que não vai se repetir e não pode servir de precedente. Não pode servir de precedente. Vossa senhoria não vai desprestigiar essa CPI mentindo, não vai”, disparou Renan em resposta ao ex-secretário.
https://www.youtube.com/watch?v=mEkxmNEnCoY
Os pedidos e negativas de prisão mantiveram a temperatura da CPI elevada. Foram necessárias interrupções - uma delas para que o advogado de Wajngarten instruísse seu cliente - e foi paralisada por quase duas horas para os senadores participarem das votações em plenário. A pausa para votar serviu para reduzir a temperatura, que chegou ao nível máximo com a troca de ofensas entre Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e Renan. O filho do presidente chamou o relator de vagabundo. Renan devolveu as ofensas no mesmo tom. Omar pediu a retirada das ofensas das notas da reunião.
https://www.youtube.com/watch?v=aIk7YRBFwig
<h3>Pfizer</h3>
Além da polêmica em torno das contradições do ex-secretário, a reunião desta quarta-feira foi marcada pela apresentação de Carta da Pfizer que alertava o governo da necessidade de iniciar as tratativas para compra dos imunizantes sob pena de fracasso por falta de doses - limitadas - que já estavam em processo de compra por outros países. A entrega do documento foi classificada por Aziz como uma “contribuição que nenhum depoente trouxe até agora”.
Segundo o ex-secretário, embora a carta seja datada em 12 de setembro, ele só teve conhecimento da missiva dois meses depois, em 9 de novembro, e apesar de ter sido endereçada a Bolsonaro e seu gabinete, ao vice-presidente Hamilton Mourão, aos ministros Eduardo Pazuello, Walter Braga Neto, Paulo Guedes, e ao embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Nestor Foster; ninguém havia ainda respondido.
A carta não menciona valores ou número de doses do imunizante, à época sem uso emergencial aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas destaca a importância de começar a negociação, já que outros países estavam se movimentando para adquirir as doses. “Celeridade é crucial devido à alta demanda de outros países e ao número limitado de doses”, diz trecho da carta entregue à CPI.
Segundo Wajngarten, ele se comunicou com o então presidente da Pfizer no Brasil, Carlos Murillo, assim que teve conhecimento da carta. Ele disse ter conversado com o executivo por telefone e ter se reunido apenas uma vez com os representantes da farmacêutica no Palácio do Planalto.
A versão poderá ser confirmada pelos senadores no depoimento de Murillo, marcado para quinta-feira (13/5). Além das conversas com Wajngarten, os senadores devem questionar o ex-presidente da Pfizer sobre como se deram as negociações das doses do imunizante durante a gestão do ex-ministro Pazuello. Documentos da própria farmacêutica que devem ser entregues à CPI amanhã apontam que pelo menos três ofertas, duas delas formais, da vacina foram feitas ao Ministério da Saúde, que não respondeu.

fabio

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JOTA

Ex-secretário de Comunicação do governo caiu em contradições ao negar declarações à Veja

Wajngarten mente à CPI, mas escapa de prisão por ação de Aziz

Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do governo, caiu em contradições ao negar na CPI as declarações feitas à Veja