Se você realizasse hoje uma pesquisa de opinião sobre as pesquisas, provavelmente descobriria que a maioria da população tem opiniões desfavoráveis sobre as empresas e o seu trabalho. Entretanto, se você perguntasse a políticos, analistas e líderes empresariais se eles deveriam prestar atenção nos resultados dessas pesquisas, é bastante provável que todos respondessem que sim.
Por isso, embora seja um segmento econômico relativamente pequeno, o setor de pesquisas tem uma influência enorme na política e na forma como as pessoas veem o governo e as eleições. Mesmo com crescente desconfiança e até falhas espantosas em algumas projeções de resultados eleitorais, as pesquisas vieram para ficar, com falhas e tudo, e provavelmente continuarão a ser uma força dominante na política por muito tempo. O Índice de Aprovação dos Presidentes do Brasil agrega os resultados de todas as pesquisas de aprovação presidencial em modelo estatístico do JOTA. Confira!
Mas, se por um lado as pesquisas são uma ferramenta por meio da qual as opiniões das pessoas podem ser quantificadas, por outro, existem muitas dúvidas sobre os métodos usados pelas empresas para produzir os resultados. Será que elas fazem as perguntas certas? Quem elas estão entrevistando? Como estão coletando as respostas? Quem está pagando pelas pesquisas?
Imagine se as pesquisas pudessem prever todas as eleições com perfeita precisão. As campanhas seriam irrelevantes. Os cidadãos se sentiriam supérfluos e logo não haveria nenhuma razão para realizar eleições. Mas, a realidade nos mostra que as incertezas e limitações das pesquisas as tornam, às vezes, muito precisas e, às vezes, menos precisas. Por isso devemos confiar nelas um pouco, mas não completamente.
Cada organização tem seu próprio jeito de coletar e analisar as respostas. É como a arte de cozinhar, cada restaurante tem suas próprias técnicas e segredinhos domésticos da combinação dos temperos à temperatura do forno para produzir seus pratos. Por isso, para diminuir as incertezas sobre a verdadeira taxa de aprovação do presidente ou sobre a intenção de votos de cada candidato, o JOTA prefere utilizar modelos de agregação a basear-se em números de uma única pesquisa ou empresa.
Nós desenvolvemos no JOTA um modelo bayesiano de fusão de dados que permite comparar resultados de diferentes pesquisas, calibrando os resultados originais utilizando informações como a idade da pesquisa, tamanho da amostra utilizada, método de seleção e entrevista dos participantes, e também alguma avaliação sobre performance passada de cada instituto. Como resultado, o modelo nos ajuda a julgar cada predição feita por ele usando os dados já observados para avaliar novas predições. Aprovômetro: Ferramenta que prevê as chances de aprovação de proposições legislativas que tramitam no Congresso Nacional. Confira!
Olhar o passado é um componente das nossas análises. Não que o passado vai se repetir no futuro, como todos sabem a política é feita de eventos inesperados, mas conseguimos aprender o suficiente olhando o histórico de pesquisas e eleições. Por isso, o agregador combina todas as pesquisas de avaliação dos presidentes, publicadas pelas principais empresas de pesquisa no Brasil nos últimos 36 anos. Há também uma versão do agregador específica para a eleição presidencial, com projeções baseadas em pesquisas de intenção de voto que será apresentado em um próximo relatório temático.
Até agora, os principais institutos de pesquisa já divulgaram mais de 245 pesquisas avaliando o humor da população sobre o trabalho do presidente Jair Bolsonaro
A seguir, resumimos sete fatos sobre pesquisas de opinião a partir do trabalho feito nos agregadores do JOTA:
1 – O motivo pelo qual os presidentes prestam tanta atenção às pesquisas é que elas representam muito mais do que o desejo da mídia de influenciar a agenda do governo ou de criticar e massagear o ego do mandatário. No fundo, as pesquisas são quase sempre o melhor indicador de quem ganhará a próxima eleição.
2 – Até agora, os principais institutos de pesquisa já divulgaram mais de 245 pesquisas avaliando o humor da população sobre o trabalho do presidente Jair Bolsonaro, em diversas áreas, incluindo seu comportamento pessoal, saúde, emprego e economia. Isso representa uma média de uma pesquisa a cada quatro dias.
3 – As pesquisas são uma ferramenta, não um princípio. Nós reconhecemos como as pesquisas se tornaram importantes em nossa sociedade. Mas é preciso enfatizar que existe uma diferença entre o ideal de que o povo deve governar e o uso de pesquisas para determinar políticas públicas ou manipular as necessidades e expectativas de parcela da população. Por exemplo, na mesma semana de agosto, três levantamentos diferentes encontraram taxas de avaliação positiva (soma das notas ótimo e bom) muito próximas, na casa dos 26%, outros dois levantamentos encontraram valores entre 31% e 19%, uma diferença de 12 pontos percentuais. Qual a chance de alguma dessas pesquisas conter o valor verdadeiro da aprovação presidencial?
4 – Ao longo de anos, o JOTA reuniu e organizou uma base de resultados das pesquisas de opinião conduzidas no Brasil desde 1985 e, também, informações sobre os institutos e empresas que conduziram essas pesquisas. Ao todo são cerca de 10.000 pesquisas eleitorais nacionais e locais e de avaliação de governo, cobrindo mais de 36 anos da história política brasileira, oito presidentes e 11 governos. Especificamente sobre a aprovação e avaliação dos governos, o agregador reúne resultados de mais de 1.100 pesquisas nacionais, conduzidas por 23 institutos e empresas de pesquisas.
5 – Muitos falam dos efeitos domésticos (ou house effects) das empresas de pesquisa de onde saem os resultados, mas poucos os viram. A variação de métodos de coleta das entrevistas tem a ver, entre outros motivos, com os custos de execução. Uma pesquisa pela Internet chega a custar, em média, um terço do valor de uma pesquisa telefônica com o mesmo número de entrevistas. Já uma pesquisa presencial chega a custar, em média, três vezes o valor de uma pesquisa telefônica.
6 – No caso das pesquisas telefônicas, hoje em dia, as pessoas estão menos dispostas a atender o telefone de um número que não reconhecem. Consultamos algumas empresas para saber a taxa média de ligações e respostas. Em média, são necessárias dez a quinze ligações para cada pessoa que atende a ligação. Entre as pessoas que atendem, apenas uma a cada quinze aceita responder a pesquisa completa.
7 – O modelo do JOTA de juntar todas as pesquisas e informações chegou muito mais perto do resultado final das urnas em 2018 do que qualquer levantamento individualizado.