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Em seu esforço para ser prefeito de Manaus, o Capitão Alberto Neto (PL-AM) teve primeiro de vencer um coronel. Deputado federal eleito em 2019 e reeleito em 2022 na onda do bolsonarismo, ele se impôs no PL à pré-candidatura do coronel Alfredo Menezes. Amigo e ex-colega de Bolsonaro na Aman, Menezes liderou a Zona Franca no governo anterior e chegou muito perto de tirar a vaga de Omar Aziz (PSD-AM) no Senado na eleição de 2022.
Mais jovem que Menezes, evangélico e com presença forte nas redes desde que filmava operações nos seus tempos de policial, Alberto Neto mostrou mais habilidade em costurar o apoio de caciques que controlavam o PL amazonense bem antes da chegada de Bolsonaro. Sem com isso alienar a família do ex-presidente.
Em uma cidade que deu mais de 60% dos votos a Bolsonaro em 2022, o deputado tenta encontrar resposta para a questão que bolsonaristas enfrentam nas principais capitais: como atrair os votos que foram para o ex-presidente em 2022 sem carregar a imagem de radicalismo e a rejeição?
Nesta entrevista ao JOTA, Alberto Neto testa uma resposta. Longe do estereótipo do político policial de extrema direita, o deputado mantém o tom de voz calmo mesmo quando confrontado com ênfase, destaca sua formação acadêmica e o tempo como professor tanto quanto a experiência “trocando tiro com bandido”. Cita dados, números e projetos com naturalidade.
Até que o conteúdo do bolsonarismo mostra os limites da forma da moderação.
Para não contradizer Bolsonaro, o deputado que defendeu a vacina da Covid-19 recita argumentos que caberiam bem na boca de Eduardo Pazuello quatro anos atrás. O defensor da vacina contra HPV tem de justificar voto contra a obrigatoriedade dessa vacina. E, para ser coerente, tem de se dizer contra a obrigatoriedade da vacina contra a paralisia infantil.
É um equilíbrio de contradições que, afinal, fazem sentido em Manaus. Epicentro da crise da segunda onda de Covid-19, com colapso do sistema de saúde, falta de oxigênio e covas coletivas, a cidade não só votou em Bolsonaro por larga margem como também reelegeu o governador de direita e preferiu o candidato do PL para o Senado.
Terceiro ou quarto nas pesquisas, Alberto Neto tem uma explicação para esse fenômeno e confia na campanha para ser beneficiário da polarização nacional, que ainda não define a disputa na cidade.
Qual é o principal argumento para o senhor ser eleito prefeito de Manaus?
Primeiro, há as estratégias para ser eleito e depois porque eu quero ser candidato. A estratégia para ser eleito: Manaus tem 60% do eleitorado que votou no presidente Bolsonaro, que é a cidade da Zona Franca, cidade industrial, com comércio pujante, que tem simpatia pela direita e principalmente pelo nosso líder Bolsonaro. Já saíram algumas pesquisas que mostram que 45% da população quer votar no candidato do Bolsonaro. Aliado a isso, a população quer os seus problemas resolvidos. Manaus é a quinta cidade mais rica do Brasil. Tem o quinto maior orçamento. Sabe quantas vagas nós temos de creches? Pouco mais de 7 mil. Isso não preenche nem 10% da necessidade. Curitiba é a sexta capital mais rica, sexto orçamento, população menor, e tem 55 mil vagas. Então a população quer ver, além candidato de direita, do Bolsonaro, um candidato preparado para resolver os problemas.
Então vamos entrar nos temas específicos. Quais são as suas propostas para a educação?
Nós queremos voltar às escolas cívico-militares na nossa cidade. Foi introduzido isso no governo Bolsonaro e teve uma adesão muito boa. Temos nove escolas da Polícia Militar que são sucesso. É uma briga para entrar e conseguir vaga nessas escolas. Trazer essa expertise. Uma parte, lógico, não toda a rede municipal vai ser escola cívico-militar, mas uma parte, principalmente nos lugares mais sensíveis na nossa cidade, onde o índice de criminalidade é maior.
O senhor acha que a melhor aplicação do recurso escasso da educação é direcioná-lo para militares e não para educadores?
Muito pelo contrário. Nós queremos dar condições para que os educadores possam exercer o seu brilhante papel, que é educar. Manaus é a terceira cidade mais violenta do Brasil, onde nossos professores estão sendo oprimidos em várias escolas. É tipo como se fosse uma intervenção. Dar condições para que o educador possa fazer o seu papel.
Isso não tem a ver mais com a segurança da escola do que com colocar o militar dentro da escola para exercer algum papel junto ao estudante?
Nós não temos teoria sobre isso, mas eu tenho prática. O Parque São Pedro era problemático, índice de criminalidade altíssimo. Eu já toquei tiro com bandido lá, já prendi traficantes. A população vivia amedrontada. Quando a escola estadual foi transformada em escola da PM, a comunidade se envolveu. Melhorou, não sei se é autoestima, mas essa simbiose da comunidade com a escola da PM fez com que passasse mais segurança à comunidade. Vivenciamos isso aqui no estado, tanto que as escolas se multiplicaram, e hoje é um sucesso. Vamos trazer para a rede municipal. Lógico que não é só isso. Nós temos a Zona Franca, que tem empregos, e não temos pessoas qualificadas. Estamos numa era tecnológica, e não é tão caro atualizar a educação. Por exemplo, queremos introduzir desde a rede municipal aulas de programação para criar jogos e fazer a interação com matemática, com ciência, para que, quando a criança entre no ensino médio, já entre no ensino profissionalizante, porque a tecnologia está em todas as profissões. Já entre com expertise e cultura tecnológica. Temos a lei de informática, que tem recurso de R$ 2 bilhões por ano, e muitas vezes é contingenciado por falta de pessoas preparadas para produzir novos produtos. Daqui a pouco sai um novo Bill Gates, um novo Steve Jobs. Transformar Manaus em cidade amiga das startups, do empreendedor. Mas a gente tem que começar da base, com essa facilidade no mundo tecnológico.
E como melhorar os índices da educação em Manaus?
No último IDEB, Manaus ficou na 11ª posição, um pouco abaixo da média. Na prévia, parece que subiu. Falta o resultado nacional, para comparação. O que nós precisamos? Profissionalizar a educação, dar condição para o professor fazer o seu trabalho. O que observo na gestão é que as pessoas fazem muita politicagem. Isso é muito sério. Quando olho as boas práticas, em Sobral, no Piauí, no interior de SP, é a gestão que faz a diferença. Precisamos de gestores que realmente são líderes, capacitados, que envolvam professores, alunos, comunidade. Eu fui professor de matemática, minha mãe é pedagoga. Vi que a gestão faz toda a diferença, queremos colocar bons profissionais à frente das escolas. A influência do vereador querer escolher o gestor, botar educadores para fazer campanha, tem atrapalhado o desempenho. A gente vai trazer a expertise da gestão empresarial, que vi alguns cases do PR, inclusive o secretário que agora é o secretário de SP. Recentemente ele lançou um livro. Praticamente é isso, o resumo do livro dele. Usou a expertise que ele tinha na gestão, quando era CEO da Multilaser, trouxe essa expertise de gestão para a área educacional, investiu em tecnologia, curso de línguas.
O secretário Feder tem uma gestão polêmica em São Paulo.
Em São Paulo eu não vi os números, eu vi do Paraná, e os resultados foram brilhantes. Trazer essas expertise e modernizar as nossas escolas, dando oportunidade para os professores e para os nossos alunos.
Em relação à saúde, a gente vê muitas críticas, mas a prefeitura anuncia que é a melhor do país, segundo um índice do Ministério da Saúde. Como o senhor vê a saúde em Manaus e quais são as suas propostas?
Hoje a mãe tem que acordar 4h da manhã, para chegar 5h, 6h, no posto de saúde. E ele recebe um papelzinho com número da fila, aí ele consegue a ficha, então vai ter a consulta. O médico vai ter que passar exames, muitas vezes. Aí não tem laboratório na rede municipal, ele é empurrada para o SISREG [Sistema Nacional de Regulação]. E no estado está um caos também. A demanda reprimida faz com que vá para uma fila. E o estado não tem a capacidade de atender a população, porque quando a gente não cuida bem da prevenção, empurra para a média e alta complexidade. Então, a gente não está conseguindo resolver o problema na rede municipal. Você precisa ter o parque de imagens da prefeitura, porque Manaus não é uma cidade de pequeno porte. É uma cidade-estado. Mais de 2 milhões de habitantes. Mais da metade da população do Amazonas está aqui.
E ainda vem muita gente do interior se tratar aqui.
Exatamente. Ainda tem essa demanda do interior. Então você ajudar o estado nesse sentido. Eu vi uma boa prática em Duque de Caxias (RJ), que quero trazer: um hospital dos olhos com procedimentos rápidos, não muito invasivos. Você consegue atender grande número de pessoas, reduzir a fila de catarata, consegue levar óculos para as crianças na rede municipal. E, assim como na educação, vamos trazer tecnologia pra Saúde, usar a telessaúde de maneira mais eficiente. O agente comunitário ter acesso ao tablet e levar essa saúde às pessoas mais vulneráveis. Fazer o acompanhamento das pessoas mais vulneráveis que têm diabetes, hipertensão. A prefeitura ter esse controle, e o remédio de pressão chegar às pessoas mais pobres. A gente evita que essa pessoa tenha diabetes. A gente evita que essa pessoa tenha um derrame. E aí volta e evita de ela chegar naquela bendita fila do SISREG. Além disso, quem tem plano de saúde consegue marcar consulta pelo celular. Por que a gente não consegue isso pelo SUS? A gente vai fazer não só a saúde, mas a gente vai criar o programa Manaus na Palma da Sua Mão. Serviços essenciais da prefeitura. Você não vai precisar amanhã acordar 4h da manhã para se aventurar em conseguir uma consulta. Vamos modernizar a saúde e colocar tecnologia no SUS.
Manaus enfrentou um colapso na pandemia. O governo Bolsonaro foi criticado por defender a cloroquina, resistir à vacina do Butantã, demorar na compra de vacinas. Embora bolsonarista, o senhor não embarcou na negação da vacina. E já defendeu a vacina de HPV, que tem resistência em setores da direita. Mas recentemente o senhor votou pelo PDL para tirar a obrigatoriedade da vacina da Covid-19 para crianças. O senhor não acha que isso estimula o discurso antivacina em que até hoje o senhor não tinha embarcado?
A gente tem que entender o que aconteceu na CCJ. O que era esse PDL? O PDL usava uma nota técnica do governo federal para obrigar as crianças e bebês e se vacinar. O que nós estávamos dizendo ali é que o governo não pode usar uma nota técnica para uma ação do governo. Tinha que ser um ato normativo. O PDL está dizendo o seguinte: você não pode governar através de nota técnica. Meu voto foi em relação a isso. Não era questão ideológica se era para se vacinar ou não. Daqui a pouco a Economia vai fazer uma nota técnica no lugar de ato normativo, e o Congresso não vai poder agir. E o Arthur [Lira] não aceitou o PDL. Porque era uma nota técnica. Por isso a confusão: se eu não posso fazer um PDL para uma nota técnica, então porque que a nota técnica está tendo efeito de ato normativo? Era essa confusão regimental que nós estávamos tratando naquele momento.
O senhor sabe que não é assim que os bolsonaristas veem. Veja aqui comemorações em grupos de direita pelo PDL aprovado com o seu voto: “A Câmara aprova o projeto e proíbe a obrigatoriedade de vacinar crianças”. “Atenção, pais, não deixem mais envenenarem os seus filhos”. O seu voto está sendo comemorado, por quem diz que vacina é veneno. O senhor apoiaria um ato normativo, um decreto, uma lei que determine a obrigatoriedade da vacina da Covid-19, como existe a obrigatoriedade da vacina da polio, ou o senhor acha que é direito de um pai negar ao filho uma vacina da polio, da Covid-19, do sarampo?
Eu acredito na educação, não acredito na obrigatoriedade. Eu acho que o governo tem que fazer campanhas de vacinação.
Então, o senhor é contra a obrigatoriedade da vacina da polio?
Eu sou contra a obrigatoriedade de qualquer vacina. Agora, eu, eu vou vacinar os meus filhos, eu vou fazer campanha para vacinar aqui na prefeitura todas as nossas crianças. Agora, eu não vou proibir uma criança de entrar na escola porque não se vacinou.
Então, o pai pode negar a essa criança uma proteção de saúde e deixar essa criança vulnerável por conta das decisões dele. O Estado não deve proteger essa criança?
Não é uma situação simples, é muito complexa. O que eu vou fazer é incentivar todas as vacinas que estão aprovadas pela nossa Anvisa. Todas que estão dentro do plano de vacinação, sempre será incentivado. Agora, nenhum aluno vai deixar de frequentar a minha escola porque não está vacinado. Isso pode ser certo.
O senhor é a favor da descriminalização da maconha?
Acredito que a lei como está hoje atinge o objetivo: o uso da maconha não dá pena de prisão. Isso tem que ficar claro. Mas é crime, com penas de advertência, trabalho voluntário ou educativo. Eu, como policial, vi de perto. Inclusive tive casos na minha família. Um tio de criação que entrou no mundo das drogas, usuário, roubava a minha avó, batia na minha avó. Isso faz tempo antes de ser policial, em Fortaleza. E o traficante foi lá e matou. Depois ele invadiu a casa da minha avó para poder pegar o dinheiro que ele estava devendo das drogas. Eu vi de perto. E como agente de segurança pública, vi de perto o terrorismo que as drogas causam no nosso país. Inclusive Manaus é a terceira cidade mais violenta do Brasil, porque aqui é a rota do tráfico, e as facções brigam por essa rota. Então o Comando Vermelho saiu lá do Rio de Janeiro para dominar aqui todo o estado do Amazonas. Conseguiu acabar com o PCC, conseguiu acabar o FDN. E hoje domina todo o rio. Então eu sou contra. É para desestimular essa criminalização.
Então, no caso da vacina, o senhor defende que a solução é a educação e não a obrigatoriedade. No caso das drogas, o senhor acha que tem que ter proibição e, a educação não resolve?
É porque aqui chegou no caso mais grave. Eu perdi um tio.
Ter uma criança com polio não é grave?
É muito grave.
Por isso que o pai precisa vacinar o seu filho contra polio.
Com certeza. Porque é uma vacina que já está totalmente…
Mas se ele quiser pode negar?
Acredito que não teria porque negar uma vacina de polio. A grande polêmica é no caso da vacina do Covid-19 que alguns que não… Alguns estudiosos, alguns cientistas começam a duvidar de alguns efeitos colaterais. Não é o caso da polio, já totalmente consolidada. A gente conseguiu erradicar a polio através da vacinação no nosso país.
O senhor coloca em dúvida a vacina da Covid-19 então? Até agora o senhor não tinha colocado em dúvida.
Porque na verdade eu não tenho dúvida. Eu não sou cientista. Nós temos um órgão responsável para isso. Se a Anvisa falou que a vacina é segura, como o Bolsonaro esperou a Anvisa aprovar, comprou as vacinas.
Sobre a questão da segurança. O senhor foi militar, da Aeronáutica e depois da PM. É a pauta principal da direita nesta eleição. E em Manaus essa pauta está especialmente complicada. A gente tem aqui uma disputa de facções, com um quase monopólio do Comando Vermelho, com comando territorial de algumas áreas da cidade. Quando o senhor estava na rua, era uma outra circunstância, a Família do Norte ainda existia…
Eu já peguei essa transição. Porque o Comando Vermelho tinha uma certa parceria com a Família do Norte, contra o PCC, por causa da rota do tráfico. Nessa época, nossos presídios viraram pauta internacional, com rebeliões, decapitações. Eu estava nas ruas nessa época, então é um assunto que eu vivenciei, que eu domino. Sempre fui de tropa especializada, então eu era um cara bem ativo.
Falemos sobre o aspecto municipal da segurança. Havendo indícios de controle territorial do Comando Vermelho sobre alguma região da cidade, qual pode ser a atuação da prefeitura para melhorar a segurança? É de apoio à Polícia Militar via Guarda Municipal ou é preciso alguma ação também de retomada do território de alguma forma?
É impossível a prefeitura sozinha querer enfrentar algo tão complexo como crime organizado e não é função dela. O que a prefeitura precisa é ajudar o estado a criar um ambiente favorável para a segurança pública. Pegue a teoria das janelas quebradas, utilizada em Nova York. Isso é fica muito claro para mim quando eu estava nas ruas: quando tem uma rua esburacada, a viatura da PM não passa e aquela rua fica sem prevenção em relação aos criminosos. Se aquela rua também está sem iluminação pública, vira um palco para assassinatos, estupros, e o próprio tráfico de drogas. Vamos ter que dar esse choque de ordem na cidade. A gente precisa criar um ambiente favorável para que o estado possa fazer o seu trabalho. A Guarda Municipal pode ser mais atuante nas áreas de responsabilidade da prefeitura. O efetivo é pífio para uma cidade que tem 2 milhões de habitantes. Temos mais ou menos 50 guardas municipais diários. No total, são em torno de 400, com metade concursada, metade é RDA, pessoas que eram funções administrativas e não podem utilizar armamento. Então, um cara desse sem arma, o que é que vai poder fazer se aparece um bandido armado na praça? Quero uma GM bem armada e preparada. O STF já decidiu que a Guarda Municipal pode ter poder de polícia, e a nossa Guarda pode ser um agente efetivo na vida das pessoas. Em Santa Catarina, a Guarda não precisa levar quem está com som alto para a delegacia. Ela tem um sistema em um tablet, já linkado com o Juizado de Pequenas Causas, e já faz a autuação e tu já sabe dia a hora que vai ter que prestar contas pela sua infração e nós vamos fazer isso com a guarda municipal o que estado não fez com a PM, e eu já cobrei o governador sobre isso.
Quais são as suas propostas para o transporte público?
Manaus ficou no passado. A quinta cidade, o quinto maior orçamento do Brasil, a cidade da Zona Franca, e a gente não tem um VLT, não foi pensado em BRT, não foi pensado em um metrô…
Os ônibus em corredores aqui estão em sistema de BRT, não?
A ideia do BRT seria uma linha troncal, que sai da zona norte para a zona sul. O problema desse BRT é que botou primeiro uma linha exclusiva, que seria para um BRT, só que não existe ligação com os outros os ônibus. As vias colaterais, que saem dos bairros, não têm integração com essa via rápida. Quem vem dos bairros tem dificuldade de acessar essa via rápida. O ideal seria um VLT, e é lógico que precisa de estudos mais profundos. Outra coisa: Manaus teve crescimento exponencial quando mudou a Zona Franca do comércio para a Zona Franca da indústria, da substituição de importação, e não preparamos a cidade para isso. Se você está na via principal, você tem dificuldade de sair para as vias que te levam para os bairros, e, como ainda não tem VLT, muita gente foge do transporte público e vai para moto ou para o carro. Moto tem índice de acidente crescente, e com muitos carros e poucas vias, o trânsito está caótico. E a gente precisa de um choque na infraestrutura também. Tem viadutos antigos em que embaixo você tem sinal de trânsito, porque a obra ficou pela metade.
Em relação à tarifa do transporte, o senhor acha que é preciso aumentar o subsídio?
O subsídio já tem um valor muito expressivo. Já tem o passe livre estudantil, a gente tem que dar continuidade. O que precisamos é trazer também segurança para o transporte. Acontecem quatro assaltos por dia no transporte público, e população tem medo de andar de ônibus. Nós queremos modernizar, ter reconhecimento facial integrado com a segurança pública do estado. O bandido tem medo de ser preso, e quando ele souber que todo transporte público tem reconhecimento facial e que a viatura está acompanhando o trajeto do coletivo e vai estar mais próxima para a abordagem, a chance de assalto cai. A gente pode facilitar a vida da polícia civil em prender os criminosos, criar botão do pânico. E, como o Uber, tem sistema de GPS, hoje é muito simples e barato ter esse acompanhamento.
O senhor falou sobre o crescimento desordenado, e Manaus também tem um número muito grande de pessoas em moradias precárias. Qual é a sua política habitacional para a cidade e para o desenvolvimento urbano?
Me preocupa muito quando eu vejo os bairros sendo criados de uma maneira muito distante do município e do estado. Não adianta criar várias moradias muito distantes dos hospitais, das escolas. A minha vivência diz que nós criamos verdadeiros guetos quando o Estado não se faz presente. A gente não tem uma cidade totalmente nova. Queremos trazer um programa de moradia para dentro da cidade, um lugar mais perto. Tivemos alguns programas de sucesso no passado, como o Prosamim [Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus], mas que a gente precisa fazer trazer novamente esses investimentos internacionais. A prefeitura não pode pensar só no seu recurso ou no empréstimo para custeio, e precisa voltar a trabalhar em grandes projetos, na recuperação dos nossos igarapés, nas palafitas em que as pessoas vivem, começar a urbanizar essas áreas. E o mundo todo quer investir na preservação da floresta amazônica. Manaus, como coração da floresta, já fez no passado, precisa buscar recursos no Banco Mundial, nos bancos de fomento. E também em relação à sustentabilidade da nossa floresta é possível. Nós vamos voltar a trabalhar para trazer a verticalização para essas moradias, trazer mais para dentro da cidade, reduzir os problemas, que são gigantescos. Não se resolve rápido, mas nós vamos iniciar esse processo, que vai ser modelo para o restante do Brasil.
Manaus tem uma multiplicidade de candidatos, alguns no mesmo campo. Pela direita e centro direita, temos o senhor e o presidente da Assembleia, Roberto Cidade. O senhor acha que existe alguma chance de vocês se unirem ainda?
Acho que na política a gente não pode fechar as portas, temos que deixar as portas abertas para que a gente possa aumentar o volume da nossa campanha. Então nós estamos muito abertos para conversar, lógico. Hoje o Roberto Cidade é o candidato do governador Wilson Lima. Sou o candidato do Bolsonaro. O Marcelo Ramos entrou de maneira tardia na campanha — inclusive, ele tinha dito que não ia ser mais candidato, um tempo atrás. Mas se tu perceber, a chapa do prefeito Davi tem o PSD e o MDB. Omar Aziz e Eduardo, líderes do governo do Lula. Qual era o natural? Para estar o PT aqui, concorda comigo? Mas Manaus não é petista, Lula tem queda de popularidade aqui, então o que é que aparece como estratégia do prefeito e da sua equipe? Vamos lançar um candidato do PT, vamos lançar um candidato do PT. Mas eles não tinham nenhum candidato com expressão, então Marcelo Ramos sai do seu partido, o PSD, e vai para o PT. Pra quê? Para tirar o carimbo do Lula do Davi. Então, nós temos uma candidatura laranja para tirar o carimbo do Lula do atual prefeito. Mas a gente não vai deixar, não. A gente vai expor isso.
Como seria a sua relação, como prefeito, com o governo Lula? O Amazonas tem um governador que não é alinhado ao governo Lula, e Manaus teria um prefeito também não alinhado. Isso seria positivo para a cidade?
Acho que qualquer relação entre entes deve ser institucional. Eu fui vice-líder do governo Bolsonaro, e nós tratávamos com a maior decência possível todos os governantes do Nordeste, que eram petistas, todos os recursos, todas as transferências. Nunca foi tratado de maneira pejorativa os governantes da esquerda do PT. Então, eu acredito que nós vamos fazer uma…
“Daqueles governadores de Paraíba, o pior é o do Maranhão. Tem que ter nada com esse cara”. Essa foi a frase do presidente Bolsonaro numa reunião ministerial que foi gravada.
Eu não recordo dessa parte. Mas, o que eu quero dizer para ti é que nós vamos trabalhar de maneira institucional. Manaus é a quinta cidade mais rica, nós temos orçamento, vamos criar, além do orçamento de Manaus, projetos para buscar recursos a nível internacional para transformar Manaus.
É a segunda vez que o senhor cita isso. BID, BIRD, o que o senhor está pensando aqui?
BID, Banco Mundial, CAF [Corporação Andina de Fomento, Banco de Desenvolvimento da América Latina]. Porque nós já fizemos isso, temos essa expertise. O Prosamin, que foi até a época do Eduardo Braga, foi um sucesso. Aqui nós já temos o ProSaúde, nós temos outros projetos que conseguimos realizar e mudar a cara da nossa cidade. A gente precisa dar continuidade a isso. Hoje, o prefeito pegou quase R$ 2 bilhões de empréstimo, e pouco se fez. A gente não vê uma obra pujante, não teve um complexo viário para reduzir o trânsito, não veio um VLT. O que foi gasto muito é com tinta. O que o prefeito gastou com tinta parece que dava para pintar o Brasil todinho, se ele quisesse.
O senhor fala dessas parcerias internacionais, mas não com o governo federal. Quando falou sobre habitação, não citou Minha Casa Minha Vida. Como o senhor enxerga, na prática, essa relação? É uma relação republicana?
Tem que ser uma relação republicana. Vamos levar o projeto e nós vamos tentar capitanear com o recurso do governo federal, do Banco Mundial, como eu citei anteriormente.
Qual a principal mensagem da sua campanha?
A mensagem é choque de ordem. Choque de ordem na nossa cidade. O nosso centro está em uma cracolândia ali perto das feiras, nos nossos coletivos, nas nossas escolas. Então a gente vai dar um choque de ordem na nossa cidade. E vem com essa vontade de fazer a diferença.
Sobre a cracolândia, é um problema em vários lugares do país, e um choque nunca resolveu. Em São Paulo, o prefeito Doria anunciou um dia que a Cracolândia tinha acabado. Ele mandou limpar, lavar e tirar quem lá estava. E a Cracolândia explodiu e foi para todos os lugares do Centro. Como um choque de ordem resolveria as questões específicas da cracolândia?
É o choque de ordem em todas as áreas. Falando na saúde, trazer a tecnologia, mostrar a solução para o nosso povo que está padecendo. Mas da cracolândia, agora que está no início, está se formando, não está tão crítico ainda como São Paulo, é agir antes. É você ocupar o terreno com a Guarda Municipal preparada. Porque a distribuição do nosso alimento é lá no centro de Manaus. Aquelas grandes feiras, Manaus Moderna, Feira da Banana, todo o alimento vem de outros estados, ou da produção local, e daqui de lá se distribui para os nossos supermercados. E para o restante do nosso estado. As pessoas já estão com medo de andar lá. Então a guarda municipal precisa agir agora. Se instalar naquele local, lá na feira, que é a responsabilidade da prefeitura, e fazer um trabalho preventivo. É agir agora no nascedouro.
E a saúde para eles?
É um problema muito grave. Por isso eu sou contra a liberação das drogas. Porque poucos conseguem a reabilitação. O número de reabilitação é muito baixo. É um problema de saúde pública, essa questão. Então, nós vamos ter lugares para atender, nós vamos fazer parcerias público-privadas com voucher para que a organização possa dar continuidade no tratamento. Abrigos para tirar os moradores de rua. Colocar um lugar saudável no centro da cidade, para que as pessoas possam voltar a andar no centro. Até falei: qualquer negócio sobrevive pela venda. Se não tem cliente, não vai vender. Se não vai vender, o negócio vai falir.
Exatamente na sua primeira frase, na primeira pergunta, o senhor disse que o presidente Bolsonaro teve 62% dos votos aqui. Para quem não é de Manaus, para quem olhava de fora, isso foi muito surpreendente. A gente tinha um presidente que governou durante o colapso da saúde, da falta de oxigênio em Manaus e que presidiu um governo que tomou medidas contra a Zona Franca de Manaus. O ministro da Fazenda, Paulo Guedes, falou diversas vezes que a Zona Franca era uma distorção econômica no país, e os benefícios de IPI da Zona Franca de Manaus tiveram que ser reinstituídos pelo ministro Alexandre de Moraes. O que explica essa força de Bolsonaro aqui?
Tem vários fatores. Primeiro, falando da Zona Franca de Manaus. Em todos os governos anteriores sempre foi uma guerra a questão da Zona Franca, teve reforma tributária, e vai continuar a guerra na reforma tributária. A Zona Franca tem 115 mil empregos diretos, o nosso comércio tem quase 400 mil. Nessa reforma, o comércio perdeu todo o incentivo tributário. Então, vão ter milhares de demissões. Então, é sempre uma problemática a gente conseguir manter e equalizar a Zona Franca de Manaus, e a população de Manaus já convive com isso. Falam que a Zona Franca de Manaus vai acabar. Foi no governo Lula, foi no governo FHC, foi no governo Dilma, foi em todos os governos. Esse discurso não pega na gente. Você falou da pandemia. Nós que estávamos aqui sofrendo e conhecendo a realidade, o ministro veio para cá…
Trazer cloroquina. O senhor defendeu a cloroquina?
Não. Mas eu não defendi nem A nem B porque eu não sou cientista, entendeu? Mas os cientistas que estavam cuidando disso… Tinha problemas na Inglaterra, na França. Tinha estudos na França.
Mas estava falando da ação do governo….
Mas o que nós vimos é a ação do governo. Manaus teve prioridade na vacina. Vieram médicos, enfermeiros, veio uma tropa do governo federal para ajudar nosso povo, do governo federal, das forças armadas. O próprio ministro, ele tem um laço aqui com a região, o Pazuello. Quem estava aqui viu a ação do governo. Agora, lógico que a imprensa não gosta do Bolsonaro, então, criou-se essa narrativa de que Manaus foi abandonada. Não! Existia um problema crítico, principalmente em relação à falta de oxigênio. Os caminhões para chegar com oxigênio, uma coisa absurda. A falta de infraestrutura fez o nosso povo padecer, mas a imagem que tínhamos não era essa. A Força Aérea fez uma operação inédita no mundo, de transportar o oxigênio líquido, com risco de explosão, operação de guerra para salvar nossa gente. A gente viu o esforço de todos, o braço amigo do presidente Bolsonaro, a tropa de enfermeiros, de médicos, o recurso, a prioridade nas vacinas, a prioridade nas emendas dos parlamentares. Inclusive, o prefeito [Davi], quando começou, até pedido de prisão tinha. Começo desastroso. Profissionais, secretários que furaram a fila da vacina. Eu sei que o Ministério Público pediu até a prisão. Como ele conseguiu melhorar a imagem? Quando as vacinas chegaram. Manaus foi prioridade nas vacinas, e ele fez campanhas em toda a cidade, festa, um milhão de vacinas. Ele utilizou isso como um marketing muito poderoso da vacina, coisa que acho que o Bolsonaro não utilizou. E ele conseguiu melhorar a imagem dele. Então, não faltou esse apoio, esse braço amigo do Bolsonaro nesse momento crítico.
O censo não saiu, os dados de religião do censo não saíram, mas a gente vê aqui também um contingente evangélico forte.
Aqui o público evangélico é muito forte. Então nós temos uma cidade mais conservadora, que se alinha com o discurso do presidente Bolsonaro: Deus, Pátria, Família e Liberdade. Isso encaixa muito bem na nossa população.
Sobre a Zona Franca, o senhor disse que todos os governos tiveram problemas com os benefícios, mas o governo do PT, pelo menos retoricamente, sempre defendeu a Zona Franca de Manaus, e o governo Bolsonaro, não.
Assim, você defende, mas na hora da prática sempre tem medidas que afetam a Zona Franca. Porque sempre essa guerra fiscal em todos os estados. São Paulo sempre querendo se sobrepor, principalmente aqui a nossa Zona Franca, informando que é uma distorção. Só esquecem, na verdade, que a gente preserva 97% da nossa floresta aqui. Se eles quiserem, ah, vamos acabar a Zona Franca, muito bem. Vamos minerar o ouro que tem aqui, o diamante. Vocês querem trocar? Vamos trocar a indústria tecnológica pela enxada?
A bancada do PL na Assembleia não quer trocar, quer os dois.
Acho que dá para fazer algo sustentável, sim. Nós não podemos é ter 20 municípios que são dos mais pobres do Brasil. Eu acho que a gente precisa avançar, mostrar que a floresta em pé tem um valor a agregar. Aí você falou do crédito de carbono. Aí uma mineração responsável, por exemplo, agora do potássio, da silvinita, que é algo tecnológico, que o impacto é muito baixo. Nós temos o gás agora aqui no Campo do Azulão. Tem outros lotes para a gente explorar gás. Então dá para explorar muito mais de maneira sustentável. Falta fazer isso. Por exemplo, a 319, o nosso inimigo da 319 era a Marina Silva.
O senhor é a favor de asfaltar a 319?
Não existe um amazonense contra. Qualquer amazonense, o sonho dele é asfaltar a 319. É o nosso sonho. Pegar o nosso carro… A ministra falou assim, vocês querem o quê? A 319 para passear? É um absurdo o que chegaram a falar para a gente. Mas além da questão do escoamento da produção, de fazer essa integração de Manaus com o restante do Brasil, a 319 é fundamental. É um sonho de todo o Amazonas.
Esta entrevista faz parte de uma série com candidatos a prefeitos de Manaus.