Energia

Desafios e soluções para a indústria eólica no Brasil: desvendando a crise

Se pretendemos expandir nosso parque industrial, caminho passa pelo desenvolvimento de energias renováveis

energia eólica
Crédito: Unsplash

O mercado de energia eólica vive uma controvérsia no Brasil digna de análise: ao mesmo tempo em que se batem recordes de novas instalações de usinas, “ventam cá” ares de crise no segmento. Por esse motivo, ainda seguem aquecidas na pauta do governo, a criação de políticas de incentivo voltadas para as empresas que atuam nesse setor.

Para entender o cenário atual, é importante relembrar que, a partir de 2022, houve uma redução significativa na demanda por energia. Isso resultou em uma sobreoferta no mercado regulado, ou seja, na área atendida pelas concessionárias de distribuição. E essa situação tem reduzido o número de leilões para a contratação de energia e potência por parte das distribuidoras. Como consequência, também ocorre pressão nos preços no mercado livre de energia, barateando-os e, constituindo-se, assim, mais um desafio para os geradores.

Portanto, a indústria de geração eólica, que celebra aproximadamente 90% de seus contratos no ambiente de livre comercialização, enfrenta dificuldades em manter seus projetos viáveis, dadas essas premissas. O alto custo de implantação, que inclui aerogeradores, turbinas e equipamentos pesados, torna ainda mais desafiador equilibrar as contas quando os preços de venda da energia caem.

Ademais, também vem se observando uma acentuada queda nos preços dos painéis solares no mercado internacional, o que afeta a competitividade das eólicas caracterizadas por projetos robustos, em comparação aos empreendimentos fotovoltaicos. Para coroar, esse diagrama de mercado estimula ainda a instalação de novos sistemas de geração distribuída (GD), reduzindo ainda mais o mercado das distribuidoras e retroalimentando a mesma dinâmica já demonstrada.

Diante desse cenário, só é possível vislumbrar um retorno ao otimismo das eólicas no longo prazo, com a implementação de políticas nacionais, as quais serão discutidas a seguir.

Ajustes em linhas de crédito

A proposta de ajustes nas linhas de crédito é crucial para corrigir a assimetria entre os setores eólico e solar. A valorização do produto nacional e a criação de condições mais favoráveis para os projetos eólicos podem incentivar investimentos e aumentar a competitividade da indústria. Tais financiamentos (com juros mais atrativos) visarão o estímulo da produção local, fortalecendo a cadeia produtiva no Brasil.

Incentivos à exportação

Os incentivos à exportação são fundamentais para ampliar a competitividade da indústria eólica brasileira no mercado internacional. Ao facilitar o acesso a mercados externos, essas medidas ajudam os produtores locais a diversificar suas receitas. Além disso, fomentar as exportações estimula a inovação e a eficiência na produção, contribuindo para um setor mais consolidado e sustentável a longo prazo.

Aumento da alíquota para importação de módulos fotovoltaicos chineses

Essa medida vem se implantando desde o início do ano no Brasil. Há o intuito de promover a blindagem da produção nacional, contendo a concorrência desleal exercida pelos produtos internacionais. Essa política vem evitando a saturação/inundação do mercado com produtos importados a preços baixos, que prejudicam a viabilidade dos projetos nacionais. Nesse sentido, temos exemplos de outros países que implementaram tarifas mais altas sobre produtos chineses ligados a tecnologias estratégicas, o que parece ser mesmo o caminho mais assertivo, dados os primeiros indícios.

A maior preocupação é não deixar a indústria eólica entrar em colapso, mantendo a cadeia produtiva criada ao longo dos últimos anos entre fabricantes, empresas de comissionamento, operação e manutenção de equipamentos. 

Diante dos relatos sobre a crise no setor eólico, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) criou um grupo de trabalho para discutir a estruturação da cadeia do setor. Esse grupo concluiu, nesses últimos meses, seus trabalhos e encaminhou um ofício à Casa Civil com propostas de ações para curto e médio prazos.

Para a Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (Abeeólica), a análise de potenciais soluções para a cadeia eólica nacional está alinhada com a agenda governamental de industrialização. Se o Brasil pretende expandir seu parque industrial, o caminho inevitável passa pelo desenvolvimento das energias renováveis. O país tem uma grande oportunidade de se tornar protagonista nesse processo, considerando sua disponibilidade de recursos naturais em comparação a outras nações. Desenvolver a eólica, portanto, é parte indissociável do objetivo.