A linha de produção do direito azeitou suas engrenagens em 2014. Maior escritório de contencioso de massa do país, o J.Bueno e Mandaliti Advogados (JBM) aproveitou o ano de crise para tornar ainda mais automatizado o processamento das cerca de 25 mil novas ações que chegam todos os meses ao escritório, localizado em Bauru (SP).
A base da nova metodologia é a tecnologia. “O advogado chega de manhã sem saber exatamente o que vai fazer, não tem processo carimbado para ele. Ele vai fazer aquilo que o nosso sistema de distribuição determinar que ele faça”, explica José Edgard Bueno, sócio-fundador do JBM, que afirma ter aumentado ainda mais a produtividade da equipe de 845 advogados.
Apesar do foco na arrumação na casa, o JBM cresceu 10,5% nesse ano, resultado considerado apenas “razoável” por Bueno. “Bom mesmo é acima de 15%”, diz.
O advogado, que em 2008 deixou a sociedade no Demarest &amp; Almeida para entrar de cabeça no pouco glamoroso mundo do contencioso de massas, hoje vende serviços de tecnologia para escritórios renomados e acredita que essa é a solução para os gargalos da Justiça brasileira. “O problema do Judiciário não é o número de processos em estoque ou a quantidade de ações que entram”, argumenta. “A questão é como tratar de maneira eficiente esse fluxo de processos”. Leia a íntegra da entrevista:
Para o JBM e o contencioso de massa, 2014 foi um ano bom?
Nós somos muito especializados, o JBM atua em um negócio de nicho que é o contencioso de volume. Não foi um ano excelente, mas também não foi um ano ruim, foi razoável. O que tinha que ser feito, foi feito. Investimos muito na nossa operação, implantamos melhorias internas, sobretudo na área de tecnologia para nos preparamos para os próximos anos. Mesmo assim, crescemos 10,5% em relação ao ano passado, o que é razoável.
Quais foram os desafios em 2014, ano de dificuldades econômicas?
Mudamos radicalmente o nosso método de trabalho. Para conseguirmos nos adequar às demandas dos clientes, nós tivemos que implementar um novo regime interno de trabalho, saindo daquela metodologia tradicional de “um advogado por processo”. A produtividade não é mais auferida pela quantidade de processos designada a cada advogado. Agora nós adotamos um regime de esteiras.
Como isso funciona?
O advogado chega de manhã sem saber exatamente o que vai fazer, não tem processo carimbado para ele. Ele vai fazer aquilo que o nosso sistema de distribuição determinar que ele faça. Isso deu um ganho de produtividade bastante grande. Foi um grande desafio, porque envolve uma mudança de cultura. No início houve uma resistência, o que é inevitável, mas agora todos já assimilaram. Do lado da produtividade, os resultados foram muito bons.
Quais os planos do escritório para 2015?
Acredito que 2015 vai ser um ano muito duro para todo mundo. Quem disser por aí que vai ser um ano bom, está se enganando. As empresas quando entram em regime de crise reduzem seus orçamentos, é inevitável que aconteçam reduções de custos. E o primeiro lugar em que a empresa busca reduzir custo é no fornecedor de serviço –e aí estão incluídos os escritórios de advocacia. Nós nos preparamos para esse cenário. Não significa, é claro, que não haja espaço para crescimento. Sempre é possível crescer, mesmo em situação de crise, desde que se adote a estratégia adequada.
Qual é essa estratégia?
É preciso acompanhar a realidade das empresas. E é importante ressaltar que reduzir custo não significa necessariamente fazer cortes. Você ganha eficiência fazendo mais com menos recursos. Aumentar a clientela, a base de faturamento e a quantidade de serviço prestado com a mesma mão-de-obra. Esse é o grande desafio: com o mesmo número de funcionários, buscar mais clientes, mais contratos, sendo agressivo na política de preços.
Então não há planos de aumento no número de advogados como em anos anteriores?
Apenas se for necessário para acompanhar uma determinada demanda que apareça, sem perder de vista a busca pela eficiência. Hoje temos 845 advogados.
Como o cenário de crise afeta o contencioso de massa? 

Hoje os clientes estão muito focados no cumprimento de metas. No negócio do contencioso de volume, o cliente não se contenta mais com a gestão da carteira dele, ele quer que metas sejam cumpridas. Cada cliente tem um objetivo diferenciado, por exemplo, aumentar o número de acordos em determinada região, reduzir o número de recursos à segunda instância etc. E nós conseguimos cumprir essas metas para a grande maioria dos clientes.
Quais as perspectivas para o Judiciário em 2015?
Nós conhecemos muito bem a operação do Judiciário, por conta das características da nossa atuação. Atualmente temos um estoque de 375 mil processos e, todo mês, entram 25 mil novas ações. Fazemos cerca de 15 mil audiências por mês, 160 mil diligências, em todo o país. Nós conhecemos as coisas boas e as coisas ruins do sistema. E por isso digo, sem sombra de dúvidas: o problema do Judiciário não é o número de processos em estoque ou a quantidade de ações que entram.
Essa é uma visão minoritária. Qual o problema, então?
A questão é como tratar de maneira eficiente esse fluxo de processos. A quantidade de ações reflete a existência de um conflito e o exercício de um direito, que não pode ser reprimido ou restringido. O que é preciso é criar os serviços adequados para atender a essa demanda. O Judiciário está alicerçado em uma plataforma muito pouco tecnológica. Há pouquíssima tecnologia no fluxo de entrada, processamento e término da ação. Não adianta contratar mais gente para atender a essa demanda ou alterar leis que impeçam recursos. Precisa ser criado um fluxo interno que faça uma peça que entra pela manhã em uma vara qualquer do Judiciário seja processada de forma rápida, chegue rapidamente ao demandado, para que ele possa contestar a demanda,  e chegue também rapidamente ao juiz para que ele possa julgá-la.
Como fazer isso?
Apenas a título de exemplo, guardadas as devidas proporções e diferenças: o e-Bay [site americano de comércio eletrônico] processa por ano cerca de 68 milhões de reclamações de consumidores – quase o estoque de processos da Justiça brasileira. Eles conseguem isso porque possuem uma plataforma de tecnologia que faz a reclamação fluir e produzir um resultado de forma rápida para a solução do conflito. Para que serve, hoje, uma publicação no Diário Oficial? As etapas e eventos necessários dentro de um cartório para que um simples despacho seja publicado demandam um despendimento de tempo e recursos humanos e materiais que não se justificam. É brutal a quantidade de cotovelos que existem dentro dos cartórios e é isso que faz o processo demorar. A digitalização dos processos tende a melhorar essa realidade, mas é só uma parte desse trabalho de correção de fluxos. Qual a necessidade, por exemplo, de se fazer uma audiência de conciliação com a presença física das partes, com toda a tecnologia disponível de teleconferências? Nenhuma
O que impede que um procedimento mais rápido seja adotado?
O Judiciário possui hoje 63 sistemas de processamento diferentes. Cada Estado, cada ramo da Justiça, tem um sistema e uma metodologia para, por exemplo, fazer o protocolo eletrônico de um agravo ou anexar provas a uma petição. O CNJ está tentando mudar isso através de um sistema único, mas há muitas resistências. E algumas delas são até compreensíveis, porque muitos tribunais investiram recursos para comprar seus próprios sistemas, mas, olhando para o problema com amplitude, seria melhor para o país ter um sistema único. Ficamos anos e anos discutindo uma reforma do Código de Processo Civil, quando o problema não é o Código de Processo Civil. O novo CPC não mudará nada, continuarão a entrar 25 milhões de ações no Judiciário todos os anos. Precisamos é de um Código de Processamento Eletrônico.

JBM – Jose Edgard Bueno

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JOTA

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