![Febre Oropouche](https://images.jota.info/wp-content/uploads/2019/02/73d1d83dcd8088bf836cdfd72497f1a7-1024x683.jpg)
O Ministério da Saúde emitiu hoje uma nota técnica recomendando que estados e municípios redobrem a vigilância sobre a possibilidade de transmissão vertical (quando o bebê é infectado durante a gestação) do vírus oropouche. O alerta foi feito depois que o Instituto Evandro Chagas (IEC) identificou anticorpos do vírus em um caso de abortamento e quatros casos de bebês com microcefalia.
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Os estudos com bebês foram conduzidos no mês passado. As amostras foram coletadas quando três dos bebês com microcefalia estavam com um dia de vida e outro, com 27 dias. A presença de anticorpos foi identificada em amostras de soro em dois casos. Nos dois restantes, em amostras de líquor.
Este mês, uma investigação de um caso de óbito fetal com 30 semanas identificou traços do vírus em sangue de cordão umbilical, placenta e diversos órgãos fetais, incluindo tecido cerebral, fígado, rins, pulmões, coração e baço. Outros estudos sobre o caso, que incluem análises laboratoriais e dados epidemiológicos, estão em curso.
De acordo com o informe, os resultados dos exames deixam claro que há a transmissão vertical do vírus. O estudo, contudo, afirma não ser possível fazer uma relação causal entre a infecção pelo vírus durante a vida intrauterina e a microcefalia identificada nos quatro bebês. Até o momento, não foi informado o local do nascimento dos bebês.
Diante desta constatação, o Ministério da Saúde fez uma série de recomendações. Estados e municípios devem intensificar a vigilância nas fases finais da gestação e acompanhamento de bebês de mulheres que tiveram dengue, zika, chikungunya ou febre oropouche.
É indicado ainda fazer o rastreamento, com coletas de amostras. Há também a necessidade de se alertar gestantes sobre medidas de proteção, como evitar áreas com maruins e mosquitos, usar telas em portas e janelas, roupas que cubram a maior parte do corpo e aplicar repelente.
O que é a Febre do Oroupuche
A doença é causada pelo arbovírus Orthobunyavirus oropoucheense (OROV). A presença do agente foi identificada pela primeira vez no país em 1960. Desde então, casos isolados e surtos foram relatados no país, sobretudo na região Amazônica. Casos também foram notificados no Panamá, Argentina, Bolívia, Equador, Peru e Venezuela.
A FO é caracterizada por febre de início repentino, dor de cabeça, dores musculares e nas articulações. Também são relatados tontura, dor na parte posterior dos olhos, calafrios, náuseas, vômitos. Em cerca de 60% dos pacientes, algumas manifestações, como febre e dor de cabeça persistem por duas semanas. Não há tratamento para a doença. A prevenção é feita a partir da proteção dos mosquitos transmissores.
Expansão
Em 2023, a investigação da doença, que anteriormente estava restrita à Região Norte, foi ampliada para todo o país. O número mais recente mostra que este ano foram confirmados no país 7.044 casos de FO. Em 16 Unidades da Federação há transmissão autóctone (dentro do próprio Estado).
Zika
O Brasil assistiu entre 2015 e 2017 uma epidemia de casos de microcefalia relacionada à infecção durante a gestação pelo virus Zika, também uma arbovirose, a exemplo da febre oroupuche. O país decretou estado de emergência no período.
Entre 2015 e 2023, foram notificados ao Ministério da Saúde 22.251 casos suspeitos de Síndrome Congênita Associada ao Zika, dos quais 3.742 (16,8%) foram confirmados para alguma infecção congênita. Do total de casos confirmados, 1.828 (48,9%) foram classificados como casos de SCZ, e destes, 1.380 (75,5%) ocorreram na Região Nordeste.
Emergência de Zika completará 9 anos
A confirmação da transmissão vertical de Febre Oropouche no Brasil ocorre nove anos depois que o país declarou Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional por Zika. Assim como a Febre Oropouche, a zika também é uma arbovirose.
Em 2015, Pernambuco e depois outros estados do Nordeste identificaram um aumento expressivo de casos de microcefalia. Desde o início, o aumento inesperado de casos foi associado por alguns especialistas ao surto de Zika enfrentado meses antes na região.
Coube à neuropediatra de Campina Grande, Adriana Melo, fazer a associação entre o aumento de casos da malformação e a transmissão da Zika durante a gestação. Em novembro de 2015, a médica coletou amostras do líquido amniótico de dois fetos com microcefalia e identificou a presença do vírus. Mais tarde, veio a confirmação oficial do Ministério da Saúde sobre a ligação da microcefalia e da infecção pelo vírus.
A emergência nacional perdurou até maio de 2017. A doença, mais tarde chamada de Síndrome Congênita Associada à Infecção pelo vírus Zika, afetou sobretudo o Nordeste. E, embora a emergência tenha terminado, casos ainda são notificados.
Até o ano passado, foram notificados 22.251 casos suspeitos de SCZ, com 1.828 confirmações. Um em cada quatro casos ocorreu no Nordeste.
Em 2023, 1.035 casos suspeitos foram notificados. Seis foram confirmados para a síndrome. Assim como era no passado, as investigações são demoradas. Dos casos de 2023, 66% (684) ainda estão sob investigação.
No período mais duro da emergência, mães com bebês com a síndrome enfrentavam grande dificuldade para diagnóstico e para assistência. Bebês portadores da síndrome demandam uma assistência multidisciplinar, que dificilmente era atendida.
As dificuldades enfrentadas no período da Zika deixaram lições, como a necessidade de se fazer vigilância epidemiológica para identificar riscos de transmissão vertical de doenças.
No caso da FO, a transmissão vertical já era uma suspeita. Estudos feitos com animais infectados por vírus do grupo Simbu, do qual o transmissor da Febre Oropouche faz parte, demonstraram a ocorrência da contaminação da gestante para o feto. No caso de animais, a transmissão provocava abortamento e malformações. “Com base nesses resultados, a possibilidade de transmissão do OROV da mãe infectada para o bebê durante a gestação é considerada desde os primeiros surtos identificados no Brasil, porém sem evidências científicas consistentes sobre a ocorrência da transmissão vertical e o efeito da infecção de OROV sobre teratogenia ou aborto”, informou o alerta feito pelo Ministério da Saúde a Estados e municípios.
A partir do informe, vigilâncias locais devem ampliar não só a vigilância, mas também alertas para que gestantes adotem medidas de proteção. Isso vale sobretudo para uso de repelentes.