O governo federal precisará de 370 milhões de doses de vacina contra a Covid-19 em 2023. O cálculo do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), baseado em números do LocalizaSUS, considera as pessoas que ainda precisam completar o esquema vacinal em todas as faixas etárias mais uma dose de reforço anual.
Para atingir essa meta, estipulada em 95% de cobertura para todas as faixas etárias, devem ser aplicados cerca de 1 milhão de imunizantes contra a Covid-19 por dia — patamar muito acima do registrado nos últimos meses. O montante, porém, está dentro do que pode ser operacionalizado pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde, que tem capacidade para aplicar até 2,3 milhões de doses diariamente.
“Considerando o esquema já adotado e o possível reforço anual no próximo ano, serão 370 milhões de doses necessárias considerando a meta de 95% da população apta alcançada com todas as doses”, afirmou ao JOTA o presidente do Conass e secretário de Saúde do Espírito Santo, Nésio Fernandes.
Parte dessas 370 milhões de doses — montante superior à capacidade de produção do Instituto Butantan para todas as vacinas, por exemplo — deve vir da quantidade remanescente deste ano. Não se sabe ao certo quantas são: o ministério não repassou o total à equipe de transição do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A expectativa do grupo é obter essa informação até a próxima semana, mas os integrantes não sabem se a própria pasta tem o dado. Para a equipe de transição, os motivos variam desde a desorganização do PNI até as deficiências nos sistemas de informação. A reportagem também questiona a pasta há semanas sobre a quantidade de doses em estoque, sem resposta.
Como o JOTA mostrou, o ministério também não definiu um cronograma de vacinação contra a Covid-19 para 2023. Há uma tendência de que a campanha ofereça uma dose anual, como a da gripe.
Até o momento, o foco para o reforço deve recair sobre a AstraZeneca, por ser mais barata e de produção nacional. O ministério ainda não definiu qual será o público-alvo: toda a população adulta ou só grupos prioritários. A decisão final ficará para a próxima gestão.
Brasil deixou de aplicar 160,5 milhões de doses em 2022
O Brasil deixou de aplicar 160,5 milhões de vacinas contra a Covid-19 neste ano, mostra levantamento do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) com base no LocalizaSUS, do Ministério da Saúde. O número equivale ao total de imunizantes que as pessoas deixaram de tomar, da primeira à quarta dose considerando os públicos-alvo.
O montante revela um gargalo de pessoas suscetíveis à Covid-19, sobretudo na nova onda de casos vivenciada neste fim de ano. Levar as pessoas aos postos de saúde para tomar a primeira ou as demais doses representará um desafio a ser enfrentado pela próxima gestão.
Se considerados apenas os dados relativos às crianças, a preocupação cresce. Só 0,04% dos bebês de 6 meses a 2 anos já receberam uma dose de vacina da Pfizer, a única liberada para a faixa etária no Brasil.
A demora do ministério em dar aval ao início da vacinação do grupo, somada à restrição da pasta para aplicar apenas naquelas com comorbidades, contribui para a baixíssima cobertura. Na parcela de 3 a 4 anos, a taxa sobe timidamente para 2,18%.
Uma das prioridades — e desafios — da equipe de transição é reverter a baixa cobertura vacinal. Os índices estão em queda desde 2016 para os imunizantes aplicados de forma rotineira pelo PNI, como BCG e tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola), ameaçando o retorno de doenças já erradicadas ou sob controle no país. Mutirões de imunização estão na mira do próximo como estratégia para atingir essa meta.