A tensão entre os Poderes não vai se aprofundar com os atos de 7 de setembro se depender da aposta de operadores políticos em Brasília. Não que, a essa altura, alguém acredite em um figurino moderado de Jair Bolsonaro, que sequer esperou subir no carro de som para retomar os ataques contra o ministro do TSE, Alexandre de Moraes. Mas sim porque o presidente da República foi incapaz de reunir condições concretas para transformar em ação, na data que marca o bicentenário da Independência, a retórica golpista que alimenta desde o início do mandato.
Até mesmo o Ministério da Defesa, depois de meses vocalizando incertezas infundadas sobre a lisura do processo na comissão de transparência da corte eleitoral, terminou por reconhecer o êxito do teste de integridade das urnas eletrônicas, implementado no país há 20 anos. A admissão do óbvio vem na esteira da resposta diplomática, empresarial e da elite do poder ao encontro organizado pelo presidente com embaixadores no Palácio da Alvorada, em julho.
Tanto isolamento joga a favor de certa dose de pragmatismo eleitoral. Se quiser permanecer no poder por mais quatro anos, o segundo colocado nas pesquisas terá de atrair um voto preocupado com questões econômicas, que “não está interessado em saber se a urna eletrônica funciona”, como sintetizou um expoente do centrão. Portanto, se Bolsonaro escolher o acirramento democrático nesta quarta-feira (7), pior será para o próprio desempenho nas pesquisas.
Não à toa o resgate do antipetismo ressurgiu como prioridade na campanha. Para a militância mais ideológica que deve comparecer em peso aos protestos, é sinônimo de manter em alta a agenda de costumes. Há ainda a expectativa de se reaproximar de bolsonaristas arrependidos no Sudeste, região decisiva para a disputa, ao atrelar a corrupção ao campo adversário. A estratégia coincide com a redução, mais acelerada do que no restante do país, da vantagem de Lula sobre Bolsonaro. O exemplo mais eloquente é São Paulo, maior colégio eleitoral, com reflexo tanto na ampliação da rejeição do ex-presidente como no descolamento do candidato bolsonarista ao governo estadual, Tarcísio de Freitas, do tucano Rodrigo Garcia.
Com resultados eleitorais tímidos colhidos na primeira rodada de pagamentos dos benefícios sociais turbinados, Bolsonaro parece ter entendido que o atalho para desidratar o primeiro colocado nas pesquisas é ampliar a rejeição ao ex-presidente. Mas a eleição é em si um plebiscito sobre o governo que busca reeleição, e a conjuntura de rechaçar a política tradicional da qual Bolsonaro se beneficiou no pleito passado foi ultrapassada pela preocupação com o custo de vida.
O presidente faria mais pela viabilidade no pleito se insistisse em tornar palatável para o cidadão comum os bons resultados na economia divulgados nas últimas semanas. O crescimento do PIB, a redução no preço dos combustíveis ou até a melhora no mercado de trabalho não foram suficientes para o eleitor deixar de concluir que é Lula quem tem capacidade de oferecer um futuro melhor.
Tanta insistência de Bolsonaro em outros temas ao longo da campanha vem permitindo que o ex-presidente vislumbre o retorno ao Planalto olhando mais pelo retrovisor do que apontando qual direção pretende seguir para cumprir tamanha tarefa.