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As investigações da Polícia Federal indicam que em 5 de julho de 2022 o então presidente Jair Bolsonaro (PL) convocou uma reunião com a cúpula de seu governo para cobrar participação ativa na disseminação de desinformação e ataques à Justiça Eleitoral. O conteúdo do encontro consta em vídeo apreendido pela PF na casa de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
Na gravação, em meio a um discurso em que aponta a possibilidade de que as urnas sejam fraudadas, o ex-presidente diz que tem conversado com os ministros sobre a necessidade de fazer algo para sua manutenção no comando do país. “Não podemos esperar que outro façam por nós. Não podemos nos omitir. Nos calar. Nos esconder. Nos acomodar. Eu não posso fazer nada sem vocês. E vocês também patinam sem o Executivo”, disse.
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Em outro momento, acrescenta: “Nós vamos esperar chegar 23, 24, pra se foder? Depois perguntar: por que que não tomei providência lá trás? E não é providência de força não, caralho! Não é dar tiro. ô Paulo Sérgio, vou botar a tropa na rua, tocar fogo aí, metralhar. Não é isso, porra!”. Ele, então, exige que os ministros endossem sua narrativa.
“Daqui pra frente quero que todo ministro fale o que eu vou falar aqui, e vou mostrar. Se o ministro não quiser falar, ele vai vim falar para mim porque que ele não quer falar. Se apresentar onde eu estou errado, eu topo. Agora, se não tiver argumento pra me ti… demover do que eu vou mostrar, não vou querer papo com esse ministro. Tá no lugar errado. Se tá achando que eu vou ter 70% dos votos e vou ganhar como ganhei em 2018, e vou provar <como que eu ganhei>, o cara tá no lugar errado.”
Bolsonaro diz ainda que agendou uma reunião com embaixadores para, em suas palavras, “mostrar o que tá acontecendo”. Por fazer propaganda irregular e espalhar desinformação nesta reunião, no ano passado, o ex-presidente foi condenado à inelegibilidade.
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Ataques a ministros STF
Ainda na reunião, o então presidente acusa os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes de não serem isentos: “Porque os cara tão preparando tudo, pô! Pro Lula ganhar no primeiro turno, na fraude. Vou mostrar como e porquê. Alguém acredita aqui em Fachin, Barroso, Alexandre de Moraes? Alguém acredita? Se acreditar levanta o braço!”.
O discurso é reforçado pelo então ministro da Justiça, Anderson Torres, que faz um alerta aos colegas:
“Tem muitos aqui que eu não sei nem se tem estrutura pra ouvir o que a gente tá falando aqui. Com todo o respeito a todos. Mas eu queria começar por uma frase que o presidente colocou aqui, que eu acho muito verdadeira. E o exemplo da Bolívia é o grande exemplo pra todos nós. Senhores, todos vão se foder! Eu quero deixar bem claro isso. Porque se … eu não tô dizendo que … eu quero que cada um pense no que pode fazer previamente porque todos vão se foder”.
Já o então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, pede que mantenham sigilo sobre o conteúdo da reunião e faz acusações ao TSE. “Vou falar aqui muito claro. Senhores! A comissão (Comissão de Transparência Eleitoral) é pra inglês ver. Nunca essa comissão sentou numa mesa e discutiu uma proposta. É retórica, discurso, ataque à Democracia”.
Ele, então, encerra admitindo que a atuação das Forças Armadas tinha objetivo de reeleger o ex-presidente. “Nós temos reuniões pela frente, decisivas pra gente ver o que pode ser feito; que ações poderão ser tomadas pra que a gente possa ter transparência, segurança, condições de auditoria e que as eleições se transcorram da forma como a gente sonha! E o senhor, com o que a gente vê no dia a dia, tenhamos o êxito de reelegê-lo e esse é o desejo de todos nós”, disse.
Por fim, Bolsonaro volta a atacar os ministros do STF e diz que “perder uma eleição não tem problema nenhum”. “Nós não podemos é perder a Democracia numa eleição fraudada!”
Para a Polícia Federal, a descrição desta reunião “revela o arranjo de dinâmica golpista, no âmbito da alta cúpula do governo, manifestando-se todos os investigados que dela tomaram parte no sentido de validar e amplificar a massiva desinformação e as narrativas fraudulentas sobre as eleições e a Justiça eleitoral, entre outras, inclusive lançadas e reiteradas contra o então possível candidato Luiz Inácio Lula da Silva, contra o Tribunal Superior Eleitoral, seus Ministros e contra Ministros do Supremo Tribunal Federal”.