Segundo Delcídio do Amaral, o vice-presidente Michel Temer foi responsável pela nomeação de João Augusto Henriques para a diretoria da BR-Distribuidora no fim do século passado. Henriques, preso na Lava Jato, teria comandado um “esquema do etanol”, com a aquisição ilícita do combustível entre 1997 e 2001.
“A relação entre João Henriques e Michel Temer é antiga e explica a sucessão de Nestor Cerveró na Diretoria Internacional da Petrobrás”, diz o anexo 16 da delação. “João Augusto foi o primeiro indicado apra essa diretoria para substituir Cerveró, entretanto foi vetado pessoalmente por Dilma Rousseff, substituído por Jorge Zelada, indicação do próprio João Augusto.”
No anexo 15, o senador contou que os executivos Léo Pinheiro, Júlio Camargo e Ricardo Pessôa acompanhavam de perto a CPI mista de investigação da Petrobras iniciada no último ano do primeiro mandato de Dilma Rousseff no Congresso Nacional. Eles jantavam semanalmente, às segundas-feiras, para evitar que fossem convocados pela CPMI.
“Os senadores Gim Argelo, Vital do Rego e os deputados federais Marco Maia e Francischini cobravam ‘pedágios’ para não convocar e ‘evitar’ maiores investigações” contra os executivos, segundo a delação. Os encontros poderiam ser comprovados por “gravações das câmaras nas residências de Gim Argelo ou nas ruas onde havia os restaurantes.
Delcídio do Amaral também aponta ilegalidades da oposição. O PFL baiano teria recebido “algo próximo de US$ 10 milhões” em um esquema comandado por Rodolpho Tourinho, aliado do político baiano Antônio Carlos Magalhães (morto em 2007), à época ministro de Minas e Energia do governo Fernando Henrique Cardoso. O desvio ocorreu na compra de máquinas da Alstom.
Ainda no governo Fernando Henrique, um esquema de “manipulação de spreads” em operações de “project finance” de exploração e produção de gás e petróleo também teria beneficiado a Brenco e o ex-presidente da estatal, Phillipe Reischstul. Com a manipulação dos spreads, parte do dinheiro ia para fundos de investimentos no exterior.
“Posteriormente, esses fundos reaplicam os recursos desviados em projetos no Brasil. Delcídio do Amaral conhece casos de ex-diretores da Petrobras que aplicaram tais fundos em plantas de etanol, como Phillipe Reichstul, ex-presidente da Petrobras, que usou desse expediente através da empresa Brenco”, diz trecho da delação.
No acordo, o senador Delcídio do Amaral cita os empreendimentos da usina de carvão de Candiota, no Rio Grande do Sul, estaleiros e contratos com a chinesa Sinopec como alvo da atuação de um grupo formado pelo presidente da Câmara de Comércio Brasil/China, Charles Tang, em conjunto com José Dirceu, Erenice Guerra, Antonio Palocci e Silas Rondeau.
Indicação de Nestor Cerveró para a diretoria da Petrobrás
Em trecho da delação, o senador narra como se deu a escolha de Nestor Cerveró para a direotira internacional da Petrobras, um dos focos de investigação da Lava Jato. Leia abaixo a transcrição do anexo 22:
“DELCIDIO DO AMARAL tem conhecimento de que NESTOR CERVERO, a partir do apadrinhamento pela PMDB, passou a arrecadar grandes quantias para os representantes do referido partido.
Em 2008, o atual Vice-Presidente MICHEL TEMER, teve grande influencia na d e NESTOR CERVERO p o r JORGE ZELADA, s e n d o q u e n a m e s m a oportunidade, CERVERO passou a ser Diretor Financeiro da BR DISTRIBUIDORA, narrada em anexos anteriores.
DELCIDIO DO AMARAL participou da com LULA e ZECA do PT, em que foi sacramentada a de NESTOR CERVERO para Diretoria Internacional da PETROBRAS.
Antes da para a Diretoria, NESTOR CERVERO era gerente da area de energia junto il presidencia da PETROBRAS. Ao ser criada a Diretoria de Gas e Energia, a gerencia que NESTOR ocupava foi deslocada para a nova Diretoria, foi quando DELCIDIO conheceu CERVERO.
Com o enfraquecimento politica de DELCIDIO DO AMARAL, por conta de ter presidido a CPMI dos Correios em 2005, cujas atingiram severamente o PT, NESTOR CERVERO passou a ser apadrinhado pela PMDB, como uma “especie” de pelo apoio politica dado pela PMDB na campanha eleitoral de LULA em 2006.”
Conexão com o Mensalão
Aos investigadores, Delcídio disse que “empresas investigadas na operação Lava Jato” quitaram dívidas do empresário Marcos Valério, operador do Mensalão, “em troca do seu silêncio”.
O senador lança suspeitas sobre a ex-ministra da Casa Civil de Dilma Rousseff, Gleisi Hoffmann, em sua atuação como diretora da usina binacional Itaipu e na condução de concessões no porto de Santos. Ele diz que o marido de Gleisi, o também ex-ministro Paulo Bernardo, era o operador da hoje senadora, mas não há detalhes na versão pública da delação.
Delcídio foi preso em novembro sob suspeito de engendrar um plano de fuga para Nestor Cerveró, cujo custo de vida seria bancado pelo bilionário André Esteves, ex-presidente do BTG Pactual. O banqueiro, também detido pela Lava Jato e libertado pelo STF meses depois, teria forte atuação no Executivo e no Legislativo, segundo Delcídio do Amaral conta em sua delação.
O presidente da Câmara dos Deputados e réu da Lava Jato no Supremo, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) seria “menino de recados” de Esteves, incluindo emendas de interesse do banqueiro em medidas provisórias em tramitação no Congresso.
Delcídio cita uma emenda prevendo o uso de papéis conhecidos como Fundos de Compensação de Variações Salariais (FCVS) para que bancos bancos falidos quitassem dívidas com a União. Delcídio admite que chegou a marcar uma agenda entre Esteves e o ex-ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para discutir essa possibilidade.
“Ressalte-se ainda, que o BTG e um dos maiores mantenedores do Instituto Lula, sendo que um dos instrumentos utilizados para repasse de valores seria o velho esquema de pagamento de ‘palestras’”, assinala o anexo 26 da delação. “Que André Esteves tem como seu “gendarme” junto ao instituto Lula e ao próprio ex-presidente Lula, o ex- Ministro Antonio Palocci.”
Antes de afirmar que Esteves “tem relações muito próximas aos fundos de pensão das empresas estatais”, Delcídio narra o interesse do ex-executivo em negócios internacionais da Petrobras.
“o BTG teve papel preponderante em varias campanhas eleitorais, sendo que a maior preocupação do ex-presidente Lula e Andre Esteves é com a PETRO AFRICA, uma operação polemica que levou a aquisição de 50% dos campos de petróleo, principalmente na Nigeria, pela BTG. O valor da foi muito aquém do que a própria Petrobras ja havia investido e o potencial dos poços (US$ 1,5 bilhões).”
Integrantes do clube de empreiteiras, o cartel que prejudicou a Petrobras e a Eletronuclear, a empresas Odebrecht e OAS seriam mais “petistas” na visão d Delcídio do Amaral, ao mesmo tempo em que a Andrade Gutierrez seria mais “tucana”. Isso não as impedia de doar para as campanhas de ambos os partidos.
Segundo Delcídio, “um instrumento bastante utilizado pela Presidente do BNDES, Luciano Coutinh é, de uma forma muito sutil, sinalizar com a de seus financiamentos, obrigando-os a viabilizar para campanhas eleitorais.”