Com um estilo “eu avisei”, o chefe da assessoria especial do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, comemorou o resultado do PIB de 2021, que ficou ligeiramente acima do previsto pelo mercado e encerrou o ano com alta de 4,6%. O técnico da pasta destacou que no agregado de 2020 e 2021, a soma das riquezas do país teve um saldo positivo de 0,6%, melhor que muitas economias do G20 e do G7, nessa comparação. E lembrou que o mercado no início do ano passado projetava alta em torno de 3,2%.
O resultado fica ainda mais favorável ao discurso do governo quando se olha o quarto trimestre, quando a alta foi de 0,5%, enquanto o mercado esperava 0,1%. Um sinal de que a economia tem um pouco mais de vigor do que se antecipava, mesmo em um quadro de alta nos juros.
“Foi uma grande vitória de política econômica”, salientou Sachsida, destacando que isso ocorreu em meio a uma sequência de choques adversos, como crise hídrica, quebra de cadeias de produção no mundo, revés climático no agronegócio, além da própria pandemia, que continuou.
Sem querer antecipar a nova projeção para o PIB de 2022, ano no qual a eleição do presidente Jair Bolsonaro estará em jogo, Sachsida apenas deixou claro que considera que o mercado está mais pessimista do que deveria e vai ser forçado a elevar suas projeções ao longo do tempo.
É necessário reconhecer que o resultado de 2021 realmente foi bom e dá força ao discurso do time do ministro Paulo Guedes e ao governo. Mas também é preciso evitar euforia. Primeiro porque há um natural efeito estatístico de recuperação depois do tombo verificado em 2020.
Segundo, porque o próprio governo (com seus sócios no Congresso) atrapalhou em parte um melhor desempenho. Não se pode esquecer as confusões na definição do orçamento de 2021, já no início de março, que elevaram juros e dólar. Tampouco a crise gerada nas discussões da PEC dos Precatórios, que culminaram com uma mudança significativa no teto de gastos e levaram a nova rodada de juros e câmbio em alta. Tudo isso pesou e ainda pesa na economia.
Um ponto de discussão é a política fiscal e sua interação com o resultado do PIB. Se de fato não houve o “abismo fiscal” que alguns economistas previam (sob protestos da Economia) para o início do ano passado, de outro cabe o debate sobre se a retirada de estímulos não ocorreu rápida demais.
Por exemplo, a interrupção do auxílio emergencial nos primeiros meses do ano passado não só retirou demanda, como incentivou um retorno das pessoas ao trabalho presencial que dificilmente pode ser desassociado da escalada da doença no segundo trimestre do ano passado, que forçou o retorno de algumas medidas restritivas e menor confiança de consumidores e empresários.
Sachsida rebate e destaca que o resultado prova o acerto das decisões de política econômica, especialmente a consolidação fiscal. Ele também lembra que a Economia sempre enfatizou o caráter temporário e emergencial das medidas.
De qualquer forma, mesmo com o inegável bom resultado de 2021 e a completa recuperação das perdas de 2020 (o “V” de fato se desenhou), é bom lembrar, como faz o Goldman Sachs em relatório divulgado nessa manhã, que o nível de atividade ainda está 2,8% abaixo do nível do pico do primeiro trimestre de 2014.
Além disso, como destaca o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, em relatório para clientes, o retrato comparativo com o resto do mundo não é tão bom assim como a SPE quer fazer crer. “Ainda não há dados consolidados de 2021, mas o mundo deve ter crescido quase 6% ano passado, o que significa que ficamos aquém da média de crescimento em porcentagem mundial, algo que já tinha acontecido em 2020 e, na verdade, tem sido nossa história de crescimento há alguns anos”, comentou.
A realidade é que o país precisa urgentemente consolidar um ritmo de crescimento que absorva o exército de desempregados e desalentados. E o quadro para 2022, mesmo na visão mais otimista da Economia, não dá conta dessa tarefa, especialmente em um ambiente repleto de riscos (como a inflação e a disparada dos juros), agora agravados com uma guerra no leste europeu e seus rumos ainda imprevisíveis.